sexta-feira, 25 de maio de 2018

MÚSICAS DO MUMDO

E a música de hoje é...

THE JAM - «That's Enterteinment»

Poet'anarquista

ISSO É ENTRETENIMENTO

Um carro de policia com uma sirene barulhenta
Uma britadeira pneumática rasgando o concreto
Um bebé chorando e o uivo de um vira-lata
O barulho dos freios e as lâmpadas de um poste piscando

Isso é entretenimento

O vidro sendo esmagado e as passadas de uma bota
Um trem eléctrico e a destruição de uma cabine telefónica
Os muros pintados e o choro de um gato
Luzes se apagando e um pontapé nas bolas

Isso é entretenimento

Dias rápidos e as segundas feiras lentas
O mijo descendo com a chuva e as quartas feiras tristes
Assistir às notícias e não tomar seu chá
Um apartamento frio e a humidade das paredes

Isso é entretenimento

Acordar às 6 da manhã numa manhã fria
Abrir a janela e respirar gasolina
Uma banda amadora ensaiando num terreno próximo
Assistir televisão pensando no seus feriados

Isso é entretenimento

Acordar de um pesadelo a fumar uns cigarros
Acariciar uma garota e sentir seu perfume amanhecido
Dias quentes de verão e o asfalto preto pegajoso
Alimentar patos no parque e desejar esta longe dali

Isso é entretenimento

Dois amantes se beijam perto da meia-noite
Dois amantes sentindo falta de tranquilidade da solidão
Pegar um táxi e viajar de autocarro
Ler os grafites sobre negócios escrito nas cadeiras

Isso é entretenimento

The Jam
Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Ausência», conto poético por Sophia de Mello Breyner Andresen.

«Ausência»
Poema de Sophia de Mello Breyner Andresen

1158- «AUSÊNCIA»

Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua

Sophia de Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 24 de maio de 2018

SÁTIRA...

Min 1
Sátira...

«MIN 1»

Dois objectivos traçou…
- Passar a fase de grupos… normal,
E com golo do Éder ganhar a final…?
- Mas Mister, você nem o convocou!
- Pronto… alguém já se lixou,
O treinador é sempre culpado…
- Se o Éder não foi convocado,
Como pode ele marcar o golo?
- Admito algum descontrolo…
O Éder está desconvocado!!

POETA

OUTROS CONTOS

«Estória do Ladrão e do Papagaio», por Luandino Vieira.

«Estória do Ladrão e do Papagaio»
Excerto de Luandino Vieira

1157- «ESTÓRIA DO LADRÃO E PAPAGAIO»

[Excerto]

‘Pode mesmo a gente saber, com a certeza, como é um caso começou, aonde começou, por quê, pra quê, quem? Saber mesmo o que estava se passar no coração da pessoa que faz, que procura, desfaz ou estraga as conversas, as macas?

Ou tudo que passa na vida não pode-se-lhe agarrar no princípio, quando chega nesse princípio vê afinal esse mesmo princípio era também fim doutro princípio e então, se a gente segue assim, para trás ou para frente, vê que não pode partir o fio da vida, mesmo que está podre nalgum lado, ele sempre se emenda noutro sítio, cresce, desvia, foge, avança, curva, para, esconde, aparece... e digo isto, tenho minha razão.

As pessoas falam, as gentes que estão nas conversas, que sofrem os casos e as macas contam, e logo ali, ali mesmo, nessa hora em que passa qualquer confusão, cada qual fala a sua verdade e se continuam falar e discutir, a verdade começa dar fruta, no fim é mesmo uma quinda de mentiras, que a mentira é uma hora da verdade ou o contrário mesmo. 

[...] 

O fio da vida que mostra o quê, o como das conversas, mesmo que está podre não parte. Puxando-lhe, emendando-lhe, sempre a gente encontra um princípio num sítio qualquer, mesmo que esse princípio é o fim doutro princípio. Os pensamentos, na cabeça das pessoas, têm ainda de começar em qualquer parte, qualquer dia, qualquer caso. Só o que precisa é procurar saber.’ 

José Luandino Vieira

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(Escolha musical da blogosfera)

AMÁLIA RODRIGUES - «Barco Negro»

Poet'anarquista

BARCO NEGRO

De manhã, que medo, que me achasses feia!
Acordei, tremendo, deitada n'areia
Mas logo os teus olhos disseram que não,
E o sol penetrou no meu coração.

Vi depois, numa rocha, uma cruz,
E o teu barco negro dançava na luz
Vi teu braço acenando, entre as velas já soltas
Dizem as velhas da praia, que não voltas:

São loucas! São loucas!

Eu sei, meu amor,
Que nem chegaste a partir,
Pois tudo, em meu redor,
Me diz qu'estás sempre comigo.

No vento que lança areia nos vidros;
Na água que canta, no fogo mortiço;
No calor do leito, nos bancos vazios;
Dentro do meu peito, estás sempre comigo.

Amália Rodrigues
Diva Portuguesa do Fado

terça-feira, 22 de maio de 2018

SÁTIRA...

O Pântano
Sátira...

«O PÂNTANO»

- Não entendo nadica,
Nada digo que encaixa…
Sou da estripe ralé baixa,
Cá o Bronco não abdica!
- Vou dar-te uma dica:
Continua a esbracejar,
Acabas por te enterrar
No pântano pestilento…
Apodreces bolorento,
Não tens como te salvar!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(22 de Maio de 1813, nasce o compositor alemão Richard Wagner)

RICHARD WAGNER - «Coro Nupcial, Acto III»

Poet'anarquista

Richard Wagner
Compositor Alemão

OUTROS CONTOS

«A Colher», por Gonçalo M. Tavares.

«A Colher»
Conto de Gonçalo M. Tavares

1156- «A COLHER»

Para treinar os músculos da paciência o senhor Calvino colocava uma colher de café, pequenina, ao lado de uma pá gigante, pá utilizada habitualmente em obras de engenharia. A seguir, impunha a si próprio um objectivo inegociável: um monte de terra (cinquenta quilos de mundo) para ser transportado do ponto A para o ponto B - pontos colocados a quinze metros de distância um do outro.

A enorme pá ficava sempre no chão, parada, mas visível. E Calvino utilizava a minúscula colher de café para executar a tarefa de transportar o monte de terra de um ponto para outro, segurando-a com todos os músculos disponíveis. Com a colher pequenina cada bocado mínimo de terra era como que acariciado pela curiosidade atenta do senhor Calvino.

Paciente, cumprindo a tarefa, sem desistir ou utilizar a pá, Calvino sentia estar a aprender várias coisas grandes com uma pequenina colher.

Gonçalo M. Tavares

segunda-feira, 21 de maio de 2018

SÁTIRA...

100  é Pouco
Sátira...

«100 É POUCO»

- Deixa-me cá ver
Quantos tenho no almoço…
Só 100?... não posso,
Vai sobrar muito comer.
Sei sempre como resolver
Estas situações…
Carlos?… arranjas uns milhões??
- Claro José, é só pedir…
Estou aqui pra servir
Os amigos glutões!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

SONNY ROLLINS - «Blue Room»
Poet'anarquista

Sonny Rollins
Saxofonista de Jazz Norte-Americano

OUTROS CONTOS

«A Virgem», conto poético por Alexander Pope.

«A Virgem»
Detalhe da Virgem dos Rochedos
Leonardo da Vinci

1155- «A VIRGEM»

Feliz é o destino da
inocente vestal!
Esquecendo o mundo,
e sendo por ele esquecida.
Brilho eterno de uma
mente sem lembrança.
Toda prece é ouvida,
toda graça se alcança.

Alexander Pope

sexta-feira, 18 de maio de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

DELFINS - «Solta os Prisioneiros»

Poet'anarquista

SOLTA OS PRISIONEIROS

Em busca da verdade correm viajantes
Livres por um fio
Em busca da verdade ficam prisioneiros...
Em busca do amor dormem os amantes
Juntos por um fio
Em busca do amor ficam prisioneiros

Soltem!
Soltem!
Libertem-nos!...

 Solta os prisioneiros
Solta os prisioneiros
Por todo o mundo
Há prisioneiros
Por todo o mundo

 Soltem!
Soltem!
Libertem-nos!...

Solta os prisioneiros
Solta os prisioneiros
Por todo o mundo
Há prisioneiros
Por todo o mundo

 Soltem!
Soltem!
Libertem-nos!...

Solta os prisioneiros
Solta os prisioneiros
Por todo o mundo
Há prisioneiros
Por todo o mundo

Delfins
Banda Portuguesa

SÁTIRA...

A Lapa
Sátira...

«A LAPA»

Sou uma lapa pegajosa
Agarrada a este rochedo…
Eu cá não tenho medo,
Gosto de gente perigosa!
Quanto mais asquerosa
Tanto melhor pra mim,
Vou ter um triste fim
Preso no xelindró…
Acreditem que meto dó,
Sou um canalha ruim!!

POETA

SÁTIRA...

Opinião Pública
Sátira...

«OPINIÃO PÚBLICA»

Pergunta ao comum cidadão:
- O que acha desta vaga…
Melhor dizendo, da praga
Que é a maldita corrupção?
- Uma vergonha tanto ladrão
A cair nesses engodos…?
- Eu cá prendia-os a todos
E cortava o mal p’la raiz…?
- Só neste pobre país…?
- Corrupção? Tenha modos!

POETA

quinta-feira, 17 de maio de 2018

OUTROS CONTOS

«O Outro Eu», por Mario Benedetti.

«O Outro Eu»
JPGalhardas

1154- «O OUTRO EU»

(A morte e outras surpresas, 1968)

Tratava-se de um rapaz comum: usava calças da moda, lia gibis, fazia barulho enquanto comia, cutucava o nariz com o dedo, roncava durante a soneca, se chamava Armando Corrente em tudo menos em uma coisa: tinha um Outro Eu.

O Outro Eu usava certa poesia no olhar, se apaixonava pelas actrizes, mentia cautelosamente, se emocionava com o entardecer. O rapaz se preocupava muito com seu Outro Eu e o fazia se sentir incomodado diante de seus amigos. Já o Outro Eu era melancólico e, por causa disso, Armando não podia ser tão vulgar quanto desejava.

Uma tarde Armando chegou cansado do trabalho, tirou os sapatos, moveu lentamente os dedos dos pés e ligou o rádio. Estava tocando Mozart, mas o rapaz dormiu. Quando acordou, o Outro Eu chorava desconsoladamente. Em um primeiro momento, o rapaz não soube o que fazer, mas depois se refez e conscientemente insultou o Outro Eu. Este não disse nada, mas na manhã seguinte já havia se matado.

No começo, a morte do Outro Eu foi um duro golpe para o pobre Armando, mas depois ele pensou que agora sim poderia ser inteiramente vulgar. Esse pensamento o reconfortou.

Levava apenas cinco dias de luto quando saiu pelas ruas com o propósito de exibir sua nova e completa vulgaridade. De longe viu que seus amigos se aproximavam. Isso o encheu de felicidade e o fez imediatamente explodir em risadas. Entretanto, quando passaram próximo dele, seus amigos não notaram sua presença. Para piorar, o rapaz pôde escutar que comentavam: ‘Pobre Armando. E pensar que parecia tão forte e saudável’.

O rapaz não teve outro remédio que parar de rir e, ao mesmo tempo, sentiu na altura do peito uma aflição que se parecia muito a nostalgia. Mas ele não pôde sentir uma autêntica melancolia, porque toda a melancolia tinha sido levada pelo Outro Eu.

Mario Benedetti

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE CORRS - «Erin Shore»

Poet'anarquista

The Corrs
Banda Irlandesa

OUTROS CONTOS

«Homens Maduros», por Zélia Gattai.

«Homens Maduros»
Frutos Maduros
Verão/ Giuseppe Arcimboldo

1153- «HOMENS MADUROS»

Há uma indisfarçável e sedutora beleza na personalidade de muitos Homens que hoje estão na idade madura. É claro que toda regra tem as suas exceções, e cada idade tem o seu próprio valor. Porém, com toda a consideração e respeito às demais idades, destacarei aqui uma classe de Homens que são companhias agradabilíssimas: Os que hoje são quarentões, cinquentões e sessentões. Percebe-se com uma certa facilidade, a sensibilidade de seus corações, a devoção que eles tem pelo que há de mais belo ‘O SENTIMENTO.’

Eles são mais inteligentes, vividos, charmosos, eloquentes. Sabem o que falam, e sabem falar na hora certa. São cativantes, sabem fazer-se presentes, sem incomodar.

Sabem conquistar uma boa amizade. Em termos de relacionamentos, trocam a quantidade pela qualidade, visão aguçada sobre os valores da vida, sabem tratar uma mulher com respeito e carinho. São Homens especiais, românticos, interessantes e atraentes pelo que possuem na sua forma de ser, de pensar, e de viver. Na forma de encarar a vida, são mais poéticos, mais sentimentais, mais emocionais e mais emocionantes.

Homens mais amadurecidos têm maior desenvoltura no trato com as mulheres, sabem reconhecer as suas qualidades, são mais espirituosos, discretos, compreensivos e mais educados.

A razão pela qual muitos Homens maduros possuem estas qualidades maravilhosas deve-se a vários fatores: a opção de ser e de viver de cada um, suas personalidades, formação própria e familiar, suas raízes, sabedoria, gostos individuais, etc... mas eu creio que em parte, há uma boa parcela de influência nos modos de viver de uma época, filmes e músicas ouvidas e curtidas deixaram boas recordações da sua juventude, um tempo não tão remoto, mas que com certeza, não volta mais. Viveram a sua mocidade (época que marca a vida de todos nós) em um dos melhores períodos do nosso tempo: Os anos 60/70. 

Considerados as ‘décadas de ouro’ da juventude, quando o romantismo foi vivido e cantado em verso e prosa.

A saudável influência de uma época, provocada por tantos acontecimentos importantes, que hoje permanecem na memória, e que mudaram a vida de muitos. Uma época em que o melhor da festa era dançar agarradinho e namorar ao ritmo suave das baladas românticas. O luar era inspirador, os domingos de sol eram só alegrias. Ouviam Beatles, Johnny Mathis, Roberto Carlos, Antônio Marcos, The Fevers, Golden Boys, Bossa Nova, Morris Albert, Jovem guarda e muitos outros que embalaram suas ‘Jovens tardes de domingo, quantas alegrias! Velhos tempos, belos dias.’ Foram e ainda são os Homens que mais souberam namorar: Namoro no portão, aperto de mão, abraços apertadinhos, com respeito e com carinho, olhos nos olhos tinham mais valor... 

A moda era amar ou sofrer de amor. Muitos viveram de amor... Outros morreram de amor... Estes Homens maduros de hoje, nunca foram Homens de Ou eles estavam a namorar pela certa, ou estavam na ‘fossa’, ou estavam sozinhos. Se eles ‘ficassem’, ficariam para sempre... ao trocar alianças com suas amadas. Junto com Benito de Paula, eles cantaram a ‘Mulher Brasileira, em primeiro lugar!’ A paixão pelo nosso país, era evidente quando cantavam: ‘As praias do Brasil, ensolaradas, no céu do meu Brasil, mais esplendor... A mão de Deus, abençoou, Mulher que nasce aqui, tem muito mais Amor... Eu te amo, meu Brasil, Eu te amo... Ninguém segura a juventude do Brasil...’

A juventude passou, mas deixou ‘gravado’ neles, a forma mais sublime e romântica de viver. Hoje eles possuem uma ‘bagagem’ de conhecimentos, experiências, maturidade e inteligência que foram acumulando com o passar dos anos. O tempo se encarregou de distingui-los dos demais: Deixando os seus cabelos cor-de-prata, os movimentos mais suaves, a voz pausada, porém mais sonora, hoje eles são Homens que marcaram uma época.

Eu tenho a felicidade de ter alguns deles como amigos virtuais, mesmo não os vendo pessoalmente, percebo estas características através de suas palavras e gestos. Muitos deles hoje ‘dominam’ com habilidade e destreza essas máquinas virtuais, comprovando que nem o avanço da tecnologia lhes esfriou os sentimentos pois ainda se encantam com versos, rimas, músicas e palavras de amor. 

Nem lhes diminuiu a grande capacidade de amar, sentir e expressar seus sentimentos. Muitos tornaram-se poetas, outros amam a poesia. Por que o mais importante não é a idade denunciada nos detalhes de suas fisionomias e sim os raros valores de suas personalidades. O importante é perceber que os seus corações permanecem jovens... São Homens maduros, e que nós, mulheres de hoje, temos o privilégio de... 

PODER ADMIRÁ-LOS!

Zélia Gattai

SÁTIRA...

A Cavalaria
Sátira...

«A CAVALARIA»

- Bosta, é minha impressão
Ou a Festa já terminou?
- Martelo, parece que acabou
Esta pequena confusão…?
- Faço o rescaldo da situação:
Jogo à porta fechada
Com os jogadores na bancada…?
- Apoiado, Zorro Rodrigues!...
Assim duma vez extingues
A Festa mais esperada!!

POETA

quarta-feira, 16 de maio de 2018

O AMOR

O Amor
O Amor/ Pintura de Rodolfo Barral

O AMOR

O amor veio de mansinho
P'la calada da noite...
Se tem alma que se afoite,
O amor não está sozinho.

Veio pé ante pezinho
Talvez por aqui pernoite...
Se tem alma que acoite,
O amor vem a caminho.

O amor é como o vinho...
Não gosta de quem açoite
Pró efeito ser limpinho.

O amor anda mortinho
Que de vez se não amoite,
E receber outro carinho.

Manuel Matias

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

KING CRIMSON - «A Scarcity of Miracle»

Poet'anarquista

UMA ESCASSEZ DE MILAGRES

Noite cai
Como a escuridão reaparece
A loucura e o medo
Ele está perto deles
A fé me leva a perguntar quem eu sou
Se não mito ou homem
Ao lado deles
Não diga o que você é, mas o onde
Você estava
Luz do dia você ainda é minha alma

Noite cai
O segredo prevalece
Pânico e dor ainda os contradiz
Pizzaro e os conquistadores
Detritos e metáforas
E a escassez de milagres
Eu encontrei

Valverde e as linhas da batalha

King Crimson
Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Oh as Chaminés», conto poético por Nelly Sachs.

«Oh as Chaminés»
Tocador de Orgão/ Felix Nussbaum

O TEU CORPO EM FUMO PELO AR

E quando esta minha pele estiver desfeita
eu verei Deus sem a minha carne.

Job

1152- «OH AS CHAMINÉS»

Sobre as moradas da morte engenhosamente inventadas
Quando o corpo de Israel desfeito em fumo partiu
Pelo ar —
Como limpa-chaminés uma estrela o recebeu
Que se fez negra
Ou era um raio de sol?

Oh as chaminés!
Vias da liberdade para o pó de Jeremias e de Job —
Quem vos inventou e compôs pedra sobre pedra
De fumo o caminho aos fugitivos?

Oh as moradas da morte,
De arranjo convidativo
Para o hospedeiro, outrora hóspede —
Ó dedos,
Pondo a soleira de entrada
Como uma faca entre vida e morte —

Ó vós chaminés,
Ó vós dedos,
E o corpo de Israel em fumo pelo ar!

Nelly Sachs

terça-feira, 15 de maio de 2018

OUTROS CONTOS

«A Lição do Camaleão», por Amadou Hampate Ba.

«A Lição do Camaleão»
Ilustração e Trabalho Gráfico de Felipe Gianni

1151- «A LIÇÃO DO CAMALEÃO»

Sigam a lição do camaleão! Ele é um grande professor. Se o observardes com atenção vereis…

Primeiro, quando se decide a avançar numa direcção, nunca olha para trás. Portanto, quando estabelecerdes um objectivo para a vossa vida, não deixeis que nada vos deixe afastar dele.

Depois, quando se movimenta, nunca vira a cabeça mas os seus olhos estão sempre olhando para cima e para baixo. O que quer dizer: Informai-vos! Não acrediteis que sois únicos sobre a Terra; há sempre uma situação e um ambiente à vossa volta.

Quando chega a qualquer lugar, o camaleão toma a cor do que o rodeia. Isso não é hipocrisia, é antes tolerância, e também o “saber viver”.

E que mais faz ainda o camaleão? Quando decide andar, primeiro balança uma das suas patas anteriores para ter a certeza de que as suas patas posteriores estão firmes e não o deixam cair. Só depois se movimenta em segurança. É o que se chama a prudência no caminhar!

Amadou Hampate Ba

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

MIKE OLDFIELD'S - «Return to Ommadawn»
Poet'anarquista

Mike Oldfield's
Guitarrista e Compositor Britânico

OUTROS CONTOS

«Os Instantes Superiores da Alma», conto poético por Emily Dickinson.

«Os Instantes Superiores da Alma»
Poema de Emily Dickinson

1150- «OS INSTANTES SUPERIORES DA ALMA»

Os instantes Superiores da Alma 
Acontecem-lhe - na solidão - 
Quando o amigo - e a ocasião Terrena 
Se retiram para muito longe - 

Ou quando - Ela Própria - subiu 
A um plano tão alto 
Para Reconhecer menos 
Do que a sua Omnipotência - 

Essa Abolição Mortal 
É rara - mas tão bela 
Como Aparição - sujeita 
A um Ar Absoluto - 

Revelação da Eternidade 
Aos seus favoritos - bem poucos - 
A Gigantesca substância 
Da Imortalidade. 

Emily Dickinson

segunda-feira, 14 de maio de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

TALKING HEADS - «The Lady Don´t Mind»

Poet'anarquista

A MOÇA NÃO SE IMPORTA

Da última vez que ela pulou da janela
Bem, ela só se virou e sorriu
Você pode achar que ela falaria algo
Mas você teria que esperar um pouco

Bem, a moça não se importa
Não, não, não, a moça não se importa
Ela apenas vira a cabeça e desaparece
Eu meio que gosto desse estilo

Como um pequeno barco que flutua no rio
Está flutuando através de uma névoa
Ela pára sempre que ela quer
Bem, lá vai ela de novo

Bem, não é nenhum problema
Não, não, nenhum problema
Bem, o que ela faz
Está tudo bem comigo e
Eu meio que gosto desse estilo

Vamos lá, eu vou pra cima e pra baixo
Eu gosto desse sentimento curioso, eu sei, eu vejo
É como fazer acreditar
Cubra seus ouvidos para poder ouvir o que estou dizendo
Não estou perdida mas não sei
Onde eu estou, tenho uma pergunta
Tudo bem, tudo bem
Isso é o que gostamos
Quem sabe, quem sabe
O que eu estou pensando?

Ela diz que o amor não é o que ela procura
E todo mundo sabe
Cada vez que ela olha no espelho
Ela deixa seus sentimentos à mostra

Bem, a moça não se importa
Não, não, não, a moça não se importa
Bem, o que ela diz está bom para mim
E eu meio que gosto desse estilo

Uh-oh, uh-oh, aqui vamos nós de novo
Eu não sei, eu não sei
O que eu estou dizendo
Ei cara, ei cara
Eu certamente não sinto o mesmo
Ela gosta de dizer o que está sentindo
Ei, eu tive uma grande surpresa?
Eu sei que você pensa assim
Vamos, vamos lá, ela diz qualquer coisa
Quem sabe quem sabe
O que ela está pensando

Oh-oh oh-oh
Oh-oh oh-oh
Oh-oh oh-oh

Talking Heads
Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Num certo sentido só falamos de nós», pequeno texto de Eduardo Lourenço.

«Num certo sentido só falamos de nós»
Pintura/ Guido Boletti

1149- «NUM CERTO SENTIDO SÓ FALAMOS DE NÓS»

«Num certo sentido só falamos de nós. Contudo, as nossas palavras essenciais falam sozinhas. Nós pronunciamo-las para nos falar. A plenitude frágil dessa autonomia uma palavra que é menos nossa do que nós somos dela guarda como o diamante a luz do ser que nos é acessível.

Como o diamante ela é o resultado da mais rara das vitórias sobre a noite, opacidade nossa e do mundo, vitória sempre precária pois sob a transparência é fácil descobrir o carvão transfigurado.

Essa palavra que é suprema nomeação sem a poder ser totalmente, que pede e suporta a metamorfose permanente que a tira da morte para a vida é um dos nomes da Poesia».

Eduardo Lourenço

sexta-feira, 11 de maio de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

ERIC BURDON & THE ANIMALS
«Tobacco Road»

Poet'anarquista

TOBACCO ROAD

Em Tobacco Road
Eu nasci
Num tronco
Meu pai morreu
Sim, meu pai ficou bêbado
Deixou-me aqui
Para morrer sozinho
No meio do Tobacco Road
Eu cresci, sim
Oxidado neste barraco
Tudo o que eu tinha era pendurado nas minhas costas
Deus sabe o quanto eu odiava
Este lugar chamado Tobacco Road
Com sua casa
A única vida que eu já sei, yeh
E o Senhor sabe que eu detestava
Tobacco Road
Yeh, Yeh, Yeh
Vou sair agora
Arranjem-me um emprego
Com a ajuda e a graça de Deus
Eu vou guardar o meu dinheiro
Ficar muito rico como eu conheço
Trazê-lo de volta para Tobacco Road
Trazer essa dinamite, yeh
Guindaste grande velho
Explodi-lo, derrubá-lo
Começar tudo de novo
Construa-me uma cidade
Tenha muito orgulho de mostrar
Manter o nome do Tobacco Road
Com sua casa
A única vida que eu já sei, yeh
E o Senhor sabe que eu detestava
Tobacco Road
Yeh, Yeh, Yeh
Vou sair agora
E me arranje um emprego, yeh
Com a ajuda e a graça de Deus
Eu vou guardar o meu dinheiro
Ficar muito rico como eu conheço
Trazê-lo de volta para Tobacco Road
Trazer essa dinamite, yeh
Grande guindaste velho
Explodi-lo, derrubá-lo
Começar tudo de novo
Construa-me uma cidade
Tenha muito orgulho de mostrar
Manter o nome de Tobacco Road
Com sua casa
A única vida que eu já sei, yeh
E o Senhor sabe que eu detestava
Tobacco Road
Yeh
Tobacco Road
Yeh, Yeh

Eric Burdon & The Animals
Banda Britânica

quinta-feira, 10 de maio de 2018

OUTROS CONTOS

«Não Creio Nesse Deus», conto poético por António Aleixo.

«Não Creio Nesse Deus»
Nu/ Marc Chagall

Assim, em palavras se põe a nu a hipocrisia...

1148- «NÃO CREIO NESSE DEUS»

I
Não sei se és parvo se és inteligente
— Ao disfrutares vida de nababo
Louvando um Deus, do qual te dizes crente,
Que te livre das garras do diabo
E te faça feliz eternamente.

II
Não vês que o teu bem-estar faz d’outra gente
A dor, o sofrimento, a fome e a guerra?
E tu não queres p’ra ti o céu e a terra…
— Não te achas egoísta ou exigente?

III
Não creio nesse Deus que, na igreja,
Escuta, dos beatos, confissões;
Não posso crer num Deus que se maneja,
Em troca de promessas e orações,
P’ra o homem conseguir o que deseja.

IV
Se Deus quer que vivamos irmãmente,
Quem cumpre esse dever por que receia
As iras do divino padre eterno?…
P’ra esses é o céu; porque o inferno
É p’ra quem vive a vida à custa alheia!

António Aleixo

quarta-feira, 9 de maio de 2018

SÁTIRA...

Made In Portugal
Sátira...

«MADE IN PORTUGAL»

- Atão, Maria… como correu
O Festival da Eurovisão?...
Sem tempo prá diversão,
Conta lá o que aconteceu.
- A seu dono, o que é seu…
Como nós não há igual
A organizar festival!
- E quais foram os países
Com mais votos dos juízes?
- Eu cá inglês percebo mal…

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(9 de Maio de 1962, The Beatles firmam o seu primeiro contrato com a EMI)

THE BEATLES

Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band

The Beatles
Banda Britânica

PINTURA DO DIA...

Paisagem com Montanhas no Taiti
Paul Gauguin

Pintor Francês
Paul Gauguin


OUTROS CONTOS

«Poema», conto poético por Friedrich Schiller.

«Poema»
Pintura de Rafael Ramírez

1147- «POEMA»

Sonha e fala constantemente
todo homem, desse sonho ardente
que o faz lutar por atingir
um marco de ouro em seu porvir.
Seca e ressurge o mundo ao derredor:
o homem aguarda sempre um bem maior.

A esperança o desperta para a vida.
Envolve-o na adolescência florida,
ao moço atrai com brilho intenso.
O próprio ancião, nesse consenso,
ao baixar sobre seu caminho a treva,
à sepultura uma esperança leva.

Não é uma ilusão fugaz
com que se ofusca o néscio. Mas
o alto prenúncio, em nosso peito,
de que o destino humano é mais perfeito.
E essa voz interior, sincera,
não ilude – jamais – a alma que espera.

Friedrich Schiller

terça-feira, 8 de maio de 2018

OUTROS CONTOS

«O Rio que Corre», conto poético por Manuel Matias.

«O Rio que Corre»
7 de Maio, Ano da Graça de 2018

1146- «O RIO QUE CORRE»

Na tua rua o rio que corre
Ao sabor da chuva e vento...
Nunca se houve um lamento,
Nem mesmo quando morre.

Vai correndo de mansinho
Sempre ao jeito da corrente...
Nas margens aconchegadinho,
Sentindo o que só ele sente.

O rio que corre na rua
Como corrente de amigos,
De histórias e contos antigos
Tem a alma sempre nua.

Acredita que vai correr
Esse rio para o mar,
Por que olhando vais ver
Um brilho no teu olhar.

Rio!... docemente a sorrir
Nos olhos de uma criança,
A verdadeira esperança
Que um dia hás de sentir!!

Manuel Matias