quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

SÁTIRA...

Professor Marcelo
Sátira...

«PROFESSOR MARCELO»

-Tonho Bosta rabino…
Faça favor de brincar
Antes d' ir estudar
Com aquele menino.
- Que triste o meu destino…
Mas ó professor Martelo,
Se não me acautelo
Ainda levo no focinho!
- Vamos lá rapazinho…
Faz a vontade ao Marcelo!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

MOODY BLUES - «Melancholy Man»

Poet'anarquista

HOMEM MELANCÓLICO

Eu sou um homem melancólico, isto é o que eu sou
O mundo inteiro me rodeia, mas os meus pés estão no chão
Eu sou um homem muito solitário, fazendo o que posso
O mundo me surpreende e eu acho que entendo
Que vamos continuar crescendo, é esperar para ver

Quando todas as estrelas estão caindo no mar e em terra
E vozes zangadas forem carregadas pelo vento
Um feixe de luz vai cobrir sua cabeça
E você vai se lembrar do que foi dito
Por todos os homens de bem que este mundo conheceu
Outro homem é o que você verá
Que se parece com você e se parece comigo
E ainda de alguma forma este não vai sentir o mesmo
Pois a vida dele está presa na miséria, ele não pensa como você e eu
Porque ele não pode ver o que você e eu podemos ver

Moody Blues
Banda Britânica

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE ALAN PARSONS PROJECT
«Pyramid/ Álbum Completo»

Poet'anarquista

The Alan Parsons Project
Banda Britânica

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

DESENHO DE JACQUES LIPCHITZ

Couple ed Enfant
Desenho de Jacques Lipchitz

Texto enviado por Oriovaldo Campos Mello-Martins Pinto, possuidor do desenho que hoje se publica no Poet'anarquista, 'Couple ed Enfant'.

«O conhecimento através desse blog sobre a história de um desenho do escultor cubista lituano-franco-americano Jacques Lipchtiz, publicado no dia 22 de agosto de 2012, foi uma notícia alvissareira por pelo menos dois bons motivos.

Primeiramente por se tratar de um artista lituano de nascimento. A comunidade lituana em São Paulo é significativa e importante, sendo a segunda no mundo, só perdendo para a comunidade lituana de Chicago, nos Estados Unidos. Dela se originam, por exemplo, Lasar Segall, o grande mestre modernista.

Em segundo lugar, a rua Guadelupe, morada deste desenho por longos 32 anos, fica a apenas 600 metros do edifício Guadelupe, local onde se encontra outro desenho de Lipchtiz, de 31x 23 cm, Couple ed Enfant ou, em inglês, Couple and Newborn Child, tendo sido este desenho base para uma série de água-forte com tiragem de 65 exemplares.

O aumento da presença em São Paulo de obras desse importante artista cubista que teve o privilégio de ter sido amigo e mais, de ter sido retratado por Modigliani, é sem dúvida uma notícia que nobilita, ainda mais, as artes visuais em terras paulistas.»

Oriovaldo Campos Mello-Martins Pinto

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

MARTHA JOHNSON & THE MUFFINS
«Echo Beach»

Poet'anarquista

PRAIA DO ECO

Eu sei
É fora de moda
E um pouco ilegal
Mas eu não posso ajudá-lo
Eu sou um tolo romântico
É um hábito meu
Para ver o sol se pôr
Na Praia do Eco
Eu vejo o sol se pôr

Das nove às cinco
Para passar o meu tempo no trabalho
A tarefa é muito chata
Eu sou um auxiliar de escritório
A única coisa que ajuda
A passar o tempo
É saber que eu estarei de volta
Na Praia do Eco algum dia

Numa noite de verão em silêncio
O céu está vivo com a luz
Edifício na distância
Visão surrealista
Na praia do eco
Faz um único som
Na Praia do Eco
Não há uma alma ao redor

De nove às cinco
Para passar o meu tempo no trabalho
A tarefa é muito chato
Eu sou um auxiliar de escritório
A única coisa que ajuda
A passar o tempo
É saber que eu estarei de volta
Na Praia do Eco algum dia

Praia do Eco
Distante no tempo
Praia do Eco
Distante no tempo

Martha Johnson & The Muffins
Cantora e Banda Britânica

OUTROS CONTOS

«Gaivota», por Alexandre O'Neill.

«Gaivota»
Poema de Alexandre O'Neill

1206- «GAIVOTA»

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O’Neill

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

ELVIS PRESLEY
«Santa Claus Is Back In Town»

Poet'anarquista

PAI NATAL ESTÁ DE VOLTA À CIDADE

Bem, é tempo de Natal, querida
E a neve está caindo no chão
Bem, é tempo de Natal, querida
E a neve está caindo
Seja uma boa menina
Pai Natal está de volta à cidade

Não tenho trenó com renas
Nem saco pendurado nas costas
Você me verá chegando num grande Caddilac preto

Bem, é tempo de Natal, querida
E a neve está caindo no chão
Seja uma boa menina
Pai Natal está de volta à cidade

Pendure suas meias bonitas
E apague a luz
Pai Natal vai descer pela sua chaminé esta noite

Bem, é tempo de Natal, querida
E a neve está caindo no chão
Seja uma boa menina
Pai Natal está de volta à cidade

Elvis Presley
Músico Norte-Americano

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

ZZ TOP - «La Grange»

Poet'anarquista

O CELEIRO

O rumor se espalha em torno nessa cidade do Texas
Sobre aquele barraco lá fora, o celeiro
E você sabe do que estou falando.

Apenas deixe-me saber se você quer ir
Para aquela casa fora do alcance
Eles têm um monte de meninas óptimas.

Tenha piedade.
A haw, haw, haw, haw, haw um.
A haw, haw, haw.

Bem, eu ouvi dizer que é bom se você tem o tempo
E a nota de dez para entrar.
A hmm, hmm.

E ouvi dizer que lá é apertado toda noite,
Mas agora eu poderia estar enganado.
Hmm, hmm, hmm, hmm.

Tenha piedade.

ZZ Top
Banda Norte-Americana

OUTROS CONTOS

«Chico», por Érico Veríssimo.

«Chico»
Ardina

1205- «CHICO»

Chamava-se Chico. De quê? Ele mesmo não sabia…

– Gente pobre não tem nome… – costumava dizer.

Tinha sete anos. De dia vendia jornais, de noite apanhava bordoada do irmão mais velho, o Zico, que vivia embriagado.

A mãe havia muitos anos que estava atirada sobre um colchão velho, paralítica, cadavérica, tendo a todas as horas do dia, diante dos olhos baços e sem expressão, o mesmo quadro de miséria e desalento: as paredes sórdidas do quarto, donde pendiam molambos, o teto carcomido e cheio de teias de aranha, a janela sem batentes, eternamente escancarada, mostrando uma nesga de céu em que nas noites claras se vislumbrava, como uma esmola luminosa, a claridade fugidia de estrelas…

O pai – Chico mal se lembrava disto – morrera por um dia triste de inverno, de peste, e se fora, quase nu, dentro duma carroça velha que ia fazendo tóc-tóc-tóc-tóc. . ., aos solavancos, pela estrada barrenta e sinuosa que ia dar no cemitério.

Chico ouvia sempre dizer que havia lá em cima, no céu, um Deus muito bom e muito severo. que não queria que as crianças dissessem nomes feios nem desobedecessem aos mais velhos. Era um homem muito poderoso, que punha empenho em que todas as cousas na terra andassem direitas e bem feitas.

Surgia, então, na cabecinha do garoto um problema intrincado e insolúvel.

Chico via no mundo (mundo era a cidade em que ele, Chico, morava) gente feliz, rica, alegre; crianças que andavam bem vestidas, que tinham brinquedos surpreendentes e que comiam os doces mais saborosos desta vida. Via, ao mesmo tempo, de outro lado, os infelizes, os desprotegidos da fortuna, os que rolam pão duro e andavam a ferir os pés descalços no pedregulho das ruas. E o pequeno não podia compreender a razão de tanta desigualdade de sorte no mundo. Como era que Deus, tão bom e tão justo, consentia em que existissem crianças felizes e protegidas, ao mesmo passo que existiam outras, desgraçadas e sós, que, pra ganhar alguns tostões, – magríssimos tostões –, tinham de andar vendendo jornais pelas ruas, à luz adustiva do sol?…

E Chico não compreendia… Não compreendia e ficava pensando, pensando…

Mas não se detinha por muito tempo em tais cogitações, que adivinhava inúteis. A vida ensinara-o a ser prático. Bem sabia que com sonhos e lucubrações não ganharia o seu salário. Por isso se atirava ao trabalho.

– O’ia o Correio da Manhã! O Correeeeio! E assim ia vivendo…

Érico Veríssimo

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

OUTROS CONTOS

«O Quarto Anjo», por José Eduardo Agualusa.

«O Quarto Anjo»
Fragmento de Jacó e o Anjo/ Paul Gauguin

1204- «O QUARTO ANJO»

Após criar o primeiro anjo, Deus ofereceu-lhe um poderoso par de asas. Explicou-lhe que aquilo era mais um aparato de fé do que de voo.

– Os pássaros – assegurou-lhe – voam por convicção.

O anjo viu como voavam os pássaros, batendo as asas e recolhendo as pernas, e imitou-os. Ao fim de cinco meses tinha ganho uma certa prática e até já conseguia fazer algumas piruetas, incluindo voo picado seguido de um duplo mortal invertido. Não era ainda uma águia, mas também não poderia ser confundido com uma galinha. Enfim, voava.

– Agora tira-as. – Disse-lhe então Deus, que o observara, em silêncio, a uma distância discreta, durante todos aqueles dias. – Tira as asas e voa.

O anjo olhou para Ele incrédulo. Protestou:

– E eu lá sou doido, ó Deus?! Tiro porra nenhuma!

Deus, o qual, como se sabe, é brasileiro, não estranhou nem que o anjo falasse português, nem sequer o forte sotaque carioca. A língua e o sotaque, aprendera-as com Ele. Compreendeu, todavia, que lhe faltava o essencial, a fé, além de uma educação um pouco mais esmerada, pois, bem vistas as coisas, tratava-se de um anjo, ainda que numa fase de iniciação, e num rápido gesto de enfado, descriou-o.

O segundo anjo era, sem dúvida, um sujeito mais cordato e delicado. Muito loiro e frágil. Muitíssimo anjo. Tinha uma cabeleira comprida, que gostava de trazer sempre limpa e entrançada, num gracioso rabo-de-cavalo. Aprendeu a voar mais depressa do que o primeiro, com uma técnica original, que deixava os pássaros envergonhados. Porém, quando Deus lhe pediu que tirasse as asas e se lançasse assim, inteiramente nu, de um penhasco altíssimo, também ele recusou.

– Ai Deus! Saiba o Senhor que isso eu não faço. Com o seu perdão, faço qualquer coisa, qualquer coisa, entende?, faço qualquer coisa, mas isso não faço, não.

Disse aquilo com voz trémula e humilde, sem sombra de arrogância, de forma que o Criador se apiedou dele e o deixou ir. O anjo pintou as asas de cor-de-rosa choque e juntou-se a um bando de flamingos. Dizem que ainda hoje é possível ver, em certos crepúsculos inflamados, nalgum palude perdido de África, um anjo voando, com singular elegância, entre uma nuvem de flamingos. Voando e rindo. Eu nunca o vi, mas pode ser.

O terceiro anjo fê-lo Deus mais prático e destemido. Usava um bigode curvo e era respeitoso e de poucas palavras. Voava sem esforço, mas também sem agrado. Pousava nos ramos das mangueiras, ou de outras árvores igualmente altas e frondosas, e era capaz de ficar por ali, sentado, tardes inteiras, a cofiar o forte bigode, a comer mangas e a fruir a sombra fresca e o canto das aves. Quando Deus lhe pediu que subisse ao penhasco e que tirasse as asas e saltasse, não o contestou. Não disse nada. Voou até ao penhasco, tirou as asas e saltou. Ficou claro, naquele trágico instante, que o que lhe sobrava em disciplina faltava-lhe em fé. Ou melhor, como Deus lhe tentou explicar enquanto ele caía, vertiginosamente, de encontro ao gume feroz das rochas, lá muito em baixo, o problema é que colocara toda a sua fé no instrumento ao invés de a colocar no objectivo. O impacto foi devastador.

O Senhor Deus ficou desgostoso com o novo desaire. Levou muito tempo a recuperar-se. Por fim tentou de novo. Saiu-lhe, à quarta tentativa, um anjo alegre, até um pouco simplório, que gostava sobretudo de cantar e de dançar, artes, aliás, que ele próprio havia inventado. Para voar não parecia possuir grande talento. Todavia, quando Deus lhe sugeriu que tirasse as asas e tentasse voar sem elas, usando o esforço da fé, ele apenas perguntou, atordoado:

– E é possível?

Depois largou as asas, espreitou o fundo abismo, fechou os olhos, e imaginou que por dentro do seu corpo outras asas se desenrolavam e batiam. Foi com essas, um tanto torto, um outro tanto tonto, que se ergueu no céu.

Deus alegrou-se. Depois dele fez muitos outros anjos, legiões e legiões, mas poucos, muito poucos foram capazes de imitar o número quatro. Diz-se que esse anjo sem asas se passeia entre nós, como uma espécie de agente secreto. Um observador num campo de batalha. Uma testemunha incógnita.

Provavelmente o anjo número dois é mais feliz.

José Eduardo Agualusa

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

STEVE HACKETT - «Nomads»

Poet'anarquista

Steve Hackett
Guitarrista e Compositor Britânico

OUTROS CONTOS

«Sobre a Escrita», por Clarice Lispector.

«Sobre a Escrita»
98º. Aniversário de Clarice Lispector

1203- «SOBRE A ESCRITA…»

Meu Deus do céu, não tenho nada a dizer. O som de minha máquina é macio.

Que é que eu posso escrever? Como recomeçar a anotar frases? A palavra é o meu meio de comunicação. Eu só poderia amá-la. Eu jogo com elas como se lançam dados: acaso e fatalidade. A palavra é tão forte que atravessa a barreira do som. Cada palavra é uma ideia. Cada palavra materializa o espírito. Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento.

Devemos modelar nossas palavras até se tornarem o mais fino invólucro dos nossos pensamentos. Sempre achei que o traço de um escultor é identificável por um extrema simplicidade de linhas. Todas as palavras que digo – é por esconderem outras palavras.

Qual é mesmo a palavra secreta? Não sei é porque a ouso? Não sei porque não ouso dizê-la? Sinto que existe uma palavra, talvez unicamente uma, que não pode e não deve ser pronunciada. Parece-me que todo o resto não é proibido. Mas acontece que eu quero é exactamente me unir a essa palavra proibida. Ou será? Se eu encontrar essa palavra, só a direi em boca fechada, para mim mesma, senão corro o risco de virar alma perdida por toda a eternidade. Os que inventaram o Velho Testamento sabiam que existia uma fruta proibida. As palavras é que me impedem de dizer a verdade.

Simplesmente não há palavras.

O que não sei dizer é mais importante do que o que eu digo. Acho que o som da música é imprescindível para o ser humano e que o uso da palavra falada e escrita são como a música, duas coisas das mais altas que nos elevam do reino dos macacos, do reino animal, e mineral e vegetal também. Sim, mas é a sorte às vezes.

Sempre quis atingir através da palavra alguma coisa que fosse ao mesmo tempo sem moeda e que fosse e transmitisse tranquilidade ou simplesmente a verdade mais profunda existente no ser humano e nas coisas. Cada vez mais eu escrevo com menos palavras. Meu livro melhor acontecerá quando eu de todo não escrever. Eu tenho uma falta de assunto essencial. Todo homem tem sina obscura de pensamento que pode ser o de um crepúsculo e pode ser uma aurora.

Simplesmente as palavras do homem.

Clarice Lispector

OUTROS CONTOS

«António de Oliveira Salazar», por Fernando Pessoa.

«António de Oliveira Salazar»
Caricatura de Abel Manta

1202- «ANTÓNIO DE OLIVEIRA SALAZAR»

António de Oliveira Salazar.
Três nomes em sequência regular...
António é António.
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está bem.
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isto tem.

Este senhor Salazar
É feito de sal e azar.
Se um dia chove,
A água dissolve
O sal,
E sob o céu
Pica só azar, é natural.
Oh, c'os diabos!
Parece que já choveu...

Coitadinho
do tiraninho!
Não bebe vinho.
Nem sequer sozinho...
Bebe a verdade
E a liberdade.
E com tal agrado
Que já começam
A escassear no mercado.
Coitadinho
Do tiraninho!
O meu vizinho
Está na Guiné
E o meu padrinho
No Limoeiro
Aqui ao pé.
Mas ninguém sabe porquê.
Mas enfim é
Certo e certeiro
Que isto consola
E nos dá fé.
Que o coitadinho
Do tiraninho
Não bebe vinho,
Nem até
Café.

Fernando Pessoa

domingo, 9 de dezembro de 2018

OUTROS CONTOS

«Ser Poeta», por Manuel Matias.

«Ser Poeta»
Poeta Pobre/ Carl Spitzweg

1201- «SER POETA»

Mote

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

Florbela Espanca

Glosas

As palavras do poeta
Dizem muito do seu sentir…
Algumas fazem-no rir,
Outras tristeza p'la certa.
A alma então desperta
Já as sabe de cor,
Ouvi-las ainda é melhor
Reconforta o coração…
Com muita abnegação
Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior.

Ninguém pode imaginar
O que sente quem escreve,
Nem o próprio se atreve
Dizer o que está a pensar.
Fica horas a magicar
Sem saber o que deseja,
O que resta ou sobeja
Só a ele diz respeito…
Bem maior, com efeito,
Do que os homens! Morder como quem beija!

Saúdo-vos pobre mendigos
Desprezados na minha beira,
Uma despedida verdadeira
Junto aos vossos abrigos.
A vida infligiu castigos...
Falar deles, talvez não deva,
Há porém quem se atreva
Mostrar o seu sofrimento…
Viver só, no isolamento,
É ser mendigo e dar como quem seja.

Foi traçado o seu destino
Pela malfadada sorte,
Não vejo quem se importe
Com ‘Aquele’ pobre ‘Menino’.
Pensar nisso um desatino
Que me causa pavor,
As palavras sem favor
O procuram descrever…
Senhor do seu próprio ser,
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

Manuel Matias

sábado, 8 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

JIM MORRISON/ THE DOORS
«Peace Frog»

Poet'anarquista


SAPO DA PAZ

Há sangue nas ruas, chegando aos meus tornozelos
Ela veio

Há sangue nas ruas, chegando ao meu joelho
Ela veio

Sangue nas ruas da cidade de Chicago
Ela veio

Sangue subindo, está me seguindo

Ela veio quando o dia nasceu
Ela veio e então se afugentou
Os raios de sol em seu cabelo

Ela veio
Sangue nas ruas correndo por um rio de tristeza

Ela veio
Sangue nas ruas, chegando à minha coxa

Ela veio
O rio corre vermelho por entre as pernas da cidade

Ela veio
As mulheres choram rios de lágrimas

Ela veio até a cidade e então se afugentou
Os raios de sol em seu cabelo
Índios espalhados na estrada do amanhecer
Espíritos sangrentos habitam
As mentes frágeis como casca de ovo das crianças

Sangue nas ruas da cidade de New Haven
Sangue mancha os telhados e as palmeiras de Venice
Sangue no meu amor no terrível verão
Sangrento o sol vermelho da fantástica L.A.
Sangue grita a dor enquanto decepam os dedos dela
Sangue nascerá no nascimento de uma nação
Sangue é a rosa de uma união misteriosa

Há sangue nas ruas, chegando aos meus tornozelos
Há sangue nas ruas, chegando ao meu joelho
Sangue nas ruas da cidade de Chicago
Sangue subindo, está me seguindo

Jim Morrison/ The Doors
Cantor e Compositor Estadunidense

OUTROS CONTOS

«Ser Poeta», por Florbela Espanca.

«Ser Poeta»
Princesa

1200- «SER POETA»

Ser Poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma e sangue e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda gente!

Florbela Espanca

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

U2 - «Miysterious Ways»

Poet'anarquista

CAMINHOS MISTERIOSOS

Johnny dê um passeio com sua irmã à lua,
Deixe sua luz pálida entrar, para encher seu quarto.
Você tem vivido escondido, comendo de uma lata,
Você tem fugido, do que não entende...

Ela é escorregadia, você está deslizando,
Ela vai estar lá quando você atingir o chão.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos.
Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos

Johnny, dê um mergulho com sua irmã na chuva,
Deixe-a falar sobre as coisas que você não pode explicar.
Tocar é curar, machucar é roubar,
Se você quer beijar o céu, melhor aprender a se ajoelhar.
De joelhos, rapaz!

Ela é a onda, ela muda a maré,
Ela vê o homem dentro da criança.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos.
Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos.
Levanta meus dias, ilumina minhas noites.

Um dia você vai olhar pra trás, e você vai ver
Onde você estava preso por este amor
Enquanto você pôde estar lá
Você pôde se mover neste momento,
Siga este sentimento.

Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos.
Tudo bem, tudo bem, tudo bem,
Ela anda por caminhos misteriosos.

Movem você, espíritos movem você
Movem, espíritos isso está movendo você.
Isso move você?
Ela se move com isso
Levante meus dias, ilumine minhas noites

U2
Banda Irlandesa

OUTROS CONTOS

«Quando Lhe Disseram», por Reinaldo Arenas.

«Quando Lhe Disseram»
Ver Nada, Escutar Nada, Dizer Nada/
HC. Frank

1199- «QUANDO LHE DISSERAM»

Quando lhe disseram que estava vigiado
que à noite quando ele saía
alguém com uma chave-mestra entrava na habitação
e remexia nos frascos de aspirina
e nos consabidos, indiferentes, livros;

quando lhe disseram que dezenas de polícias
em sua honra se afadigavam,
que tinham conseguido subornar os seus familiares mais chegados,
que os seus amigos íntimos
ocultavam atrás dos testículos pequenos livretes
onde anotavam os seus silêncios e vírgulas,

não sentiu medo,
mas sim uma certa sensação de enfado
que instantaneamente soube controlar:

Não vão conseguir, prometeu a si mesmo, que me considere 
importante.

Reinaldo Arenas

PENSAMENTO...

Almeida Garret
Escritor e político português

PENSAMENTO...

Já deve andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, 
o número de corpos que se tem de entregar, antes do tempo, ao cemitério, 
para fazer um banqueiro.

Almeida Garrett

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

WATERBOYS - «A Man Is In Love»

Poet'anarquista

UM HOMEM ESTÁ APAIXONADO

Um homem está apaixonado, como eu sei?
Ele veio e caminhou comigo, e me disse tanto
Numa canção que ele cantou, e então eu soube
Que ele estava apaixonado por você.

Um homem está apaixonado, como eu ouvi?
E o ouvi dizendo muito que não importa se você está perto
Ele sussurrou seu nome quando seus olhos fecharam
Ele está apaixonado e sabe disso.

Um homem está apaixonado, como eu adivinhei?
Eu calculei isso enquanto ele observava seu vestido
Ele poderia te dar tudo, se você apenas aceitasse...
Um homem está apaixonado, ele sou eu.

Waterboys
Banda Escocesa

OUTROS CONTOS

«Questão», por Duarte Galvão.

«Questão»
Pertinente...

1198- «QUESTÃO»

Mas qual o poeta que não tem,
incestuosa
uma relação com a língua
qual a língua que não devora
o poeta?

Duarte Galvão 

(Heterónimo do poeta Virgílio de Lemos)

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

MOZART
«Symphony No. 40 In G Minor K. 550
Molto Allegro» 

Poet'anarquista

Mozart
Compositor Austríaco do Período Clássico

OUTROS CONTOS

«Canção», por Papiniano Carlos.

«Canção»
Poema de Papiniano Carlos

1197- «CANÇÃO»

Na fome verde das searas roxas
passeava sorrindo Catarina.
Na fome verde das searas roxas
ai a papoula cresce na campina!

Na fome roxa das searas negras
que levas, Catarina, em tua fronte?
Na fome roxa das searas negras
ai devoravam os corvos o horizonte!

Na fome negra das searas rubras
ai da papoula, ai de Catarina!
Na fome negra das searas rubras
trinta balas gritaram na campina.

Trinta balas
te mataram a fome, Catarina.

Papiniano Carlos

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

FRANK ZAPPA- «Cosmik Debris»

Poet'anarquista

LIXO CÓSMICO

O homem misterioso passou lá em casa
E me disse: "Sou fora de série!"
Ele disse, por uma tarifa de serviços nominais
Eu poderia atingir o Nirvana esta noite
Se eu estivesse pronto, a fim e apto
A pagar sua taxa regular
Ele largaria todas as suas outras obrigações
E dedicaria sua atenção a mim
Mas eu disse...
Olha aqui irmão
Quem você está enganando com esse lixo cósmico?
(Escuta, quem você está enganando com esse lixo cósmico?)
Olha aqui irmão,
Não perca o seu tempo comigo

O homem misterioso ficou nervoso
E ficou inquieto por um tempo
Ele buscou no bolso de seu robe misterioso
E apareceu com um kit de barbear
Agora, eu pensava que era uma lamina de barbear
E uma lata de gosma espumosa
Mas ele me disse bem ali
Quando a tampa abriu
Que não havia nada que aquela caixa não pudesse fazer
Com o óleo de afro-dite
E o pó do grande wazoo
Ele disse:
"Você pode não acreditar nisso, rapazinho
Mas isso cura sua asma também!"
E eu disse...
Olha aqui irmão
Quem você está enganando com esse lixo cósmico?
(Agora, que espécie de guru você é mesmo?)
Olha aqui irmão
Não perca o seu tempo comigo
Não perca o seu tempo...

Já tenho os meus próprios problemas, eu disse
E você não pode me ajudar
Então leve suas meditações e suas preparações
E atocha focinho acima
"Mas eu tenho uma bola de cristal!" ele disse
E a levantou na luz
Então arranquei aquilo
Afastando tudo dele
E então lhe mostrei como usá-la corretamente
Eu embrulhei um jornal ao redor da minha cabeça
Para que eu tivesse um ar de profundo
Eu disse uns "abracadabras" e então
Eu lhe contei que ele ia dormir
Eu roubei seus anéis
E seu relógio de bolso
E tudo mais que eu pudesse encontrar
Eu tinha aquele otário hipnotizado
Ele nem conseguia fazer um som
Eu continuei a lhe contar o seu futuro então
Já que ele estava ali
Eu disse
"O preço da carne acaba de subir
E sua mulher acabou de cair dentro..."
Olha aqui irmão
Quem você está enganando com esse lixo cósmico?
(Agora, isto é um poncho de verdade ou um poncho da sears?)
Olha aqui irmão
Você faria mais dinheiro como açougueiro
Então não gaste seu tempo comigo
(Não gaste, não gaste seu tempo comigo...)

Frank Zappa
Músico Norte-Americano 

OUTROS CONTOS

«Aforismo», por Noémia de Sousa.

«Aforismo»
Aforismo/ Ilustração de Manoel Ferreira Neto

1196- «AFORISMO»

Havia uma formiga
compartilhando comigo o isolamento
e comendo juntos.

Estávamos iguais
com duas diferenças:

Não era interrogada
e por descuido podiam pisá-la.

Mas aos dois intencionalmente
podiam pôr-nos de rastos
mas não podiam
ajoelhar-nos.

Noémia de Sousa

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

SÁTIRA...

Golo & Olé
Sátira...

GOLO & OLÉ

O futebol imita bem
A arte tauromáquica,
Vou pôr em prática
Tourada como convém!
Melhor que ninguém
O Conceição sabe pegar,
De caras põe-se a citar
O bicho adversário…
Quem disser o contrário,
No onze não tem lugar!!

ATEOP

SÁTIRA...

Que Delícia
Sátira...

«QUE DELÍCIA»

- Produtiva segunda parte
Saio daqui ajoelhado…
Palmas ao mau olhado,
Joga-se com muita arte.
- Ainda tens um enfarte
Por seres tão submisso,
Não quebrar o enguiço
É o que te pode tramar…
Vou de novo hibernar
E ninguém dá por isso!

ATEOP

SÁTIRA...

Os Primos de Sócrates
Sátira...

OS PRIMOS DE SÓCRATES

Tantos primos tenho
Já lhe perdi o conto,
Estou sempre pronto
Não preciso desenho.
Muito me empenho
Em aumentar família,
Para mim mais valia
Ser assim numerosa…
Foi tudo cor de rosa
Enquanto durou a folia!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

OZZY OSBOURNE - «Dreamer»

Poet'anarquista

SONHADOR

Contemplando pela janela o mundo lá fora
Desejando saber se a mãe Terra sobreviverá
Esperando que a humanidade parasse de abusar dela alguma vez

Afinal só existem dois de nós
E aqui estamos, ainda lutando por nossas vidas
Vendo toda a história se repetir, vez por vez

Sou apenas um sonhador
Eu sonho minha vida
Sou apenas um sonhador
Que sonha com dias melhores

Vejo o sol descer como todos nós
Estou aguardando que o amanhã traga bons sinais
Dessa vez, um lugar melhor para aqueles que virão depois de nós

Sou apenas um sonhador
Eu sonho minha vida
Sou apenas um sonhador
Que sonha com dias melhores

Sua força maior talvez seja Deus ou Jesus Cristo
Isso não tem muita importância para mim mesmo
Sem ajudar uns aos outros não haverá esperança para nós
Vivo num sonho de fantasia

Se ao menos pudéssemos encontrar serenidade
Seria óptimo se pudéssemos viver como um só
Quando acabará toda essa raiva e fanatismo?

Sou apenas um sonhador
Eu sonho minha vida
Sou apenas um sonhador
Que sonha com dias melhores

Sou apenas um sonhador
Que hoje está procurando o caminho
Sou apenas um sonhador
Sonhando minha vida

Ozzy Osbourne
Músico, Compositor e Vocalista Britânico
(Membro da Banda Black Sabbath)