sexta-feira, 21 de outubro de 2016

RECORDANDO ALEIXO

Recordando Aleixo
Poeta Popular Português

Mote 

Ontem rei, hoje sem trono,
Cá ando outra vez na rua;
Entreguei o fato ao dono
E a miséria continua.

António Aleixo


Glosas

Fui guardador de rebanhos,
Vendi cautelas aos demais,
Cantei em feiras e arraiais
Quadras a muitos estranhos.
Escassos foram os ganhos
Que obtive em meu abono,
Sonhei então… (rico sono!)
Que a pobreza erradicava...
Infeliz quando acordava,
Ontem rei, hoje sem trono.

Ganha pão era ao relento
Estivesse frio ou calor…
Da privação sinto horror,
Mas que triste sofrimento!
Uma quadra dá alento
A quem com arte construa,
Esse dom há quem possua
Somente em quatro versos…
Em pensamentos dispersos,
Cá ando outra vez na rua.

A certame de poesia
Resolvi ir assistir...
Mas sem roupa pra vestir,
Comparecer não podia. 
Certo amigo por simpatia
Emprestou-me o ‘quimono’,
Lá fui eu feito um mono 
Para a festa engalanado…
Depois de tudo acabado,
Entreguei o fato ao dono.

Sou poeta do infortuno
Incisivo quanto baste…
Ironia em contraste
Com um mote oportuno.
Conheço muito gatuno
Que honesto se insinua,
Só quem vive na lua
É que tal não percebe…
De novo junto à plebe,
E a miséria continua!

Manel d’ Sousa

1 comentário:

Anónimo disse...

Ao poeta Manuel d'Sousa

António Aleixo muito bem recordado num trabalho de enorme qualidade. Digo-lhe, não é para todos escrever décimas com essa mestria. Muitos parabéns, e boa continuação.