quarta-feira, 15 de abril de 2015

OUTROS CONTOS

«A Fantasia tem Olhos que tudo Vêem», por Robert Walser.

«A Fantasia tem Olhos que tudo Vêem»
Conto de Robert Walser

476- «A FANTASIA TEM OLHOS QUE TUDO VÊEM»

“Era uma vez uma rapariga que crescia num quartinho. O quartinho era simpático, a rapariga era bonita e engraçada, e disso mesmo se convencia diante do espelho que tinha por hábito interrogar. A casa onde se encontrava o quartinho que albergava a rapariga era apenas uma casinha. O juízo da rapariga era apenas um juizinho; o seu coração, só um coraçãozinho; a sua esperança, não mais que uma esperançazinha, e o seu pé, um pezinho apenas.

A rapariga era amada por um homem novo e bonito… A rapariga nova e bonita, por sua vez, também o amava, um pretexto para que o autor da presente historiazinha, conhecendo o enredo e o desenlace da mesma, se divirta às suas custas.”

“Um rapaz e uma rapariga, gente jovem a valer dos nossos tempos. Oskar e Emma de seu nome, amavam-se. Era profundo o seu amor, e ninguém duvidava menos e acreditava com mais fervor neste facto do que eles próprios. Até aqui tudo perfeito, só que havia qualquer coisa que lhes faltava, e vamos já dizer o que era esta qualquer coisa estranha e fabulosa que lhes faltava. Ninguém, para onde quer que olhassem, os impedia. Tinham licença, por assim dizer, para se amarem, beijarem, beijocarem e explorarem, sempre que para tal tivessem vontade. Mas era precisamente esse o problema: na ausência de entraves, cada vez menos tinham vontade de se dedicar a esta edificante ocupação. Os dois bons e excelentes jovens adoeciam por virtude de uma abundância de liberdade, e os seus suspiros tinham por motivo a falta de obstáculos.”

“É uma tarefa cansativa, esta de contar histórias”.
Simplesmente irresistíveis!

Robert Walser

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