sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

«CONTAS», SONETO DE NUNO JÚDICE

Nuno Júdice
Poeta Português

«CONTAS»

Uma noite, quando a noite não acabava,
contei cada estrela no céu dos teus olhos; 
e nessa noite em que nenhum astro brilhava 
deste-me sóis e planetas aos molhos. 

Nessa noite, que nenhum cometa incendiou, 
fizemos a mais longa viagem do amor; 
no teu corpo, onde o meu encalhou, 
fiz o caminho de náufrago e navegador.

Tu és a ilha que todos desejaram,
a lagoa negra onde sonhei mergulhar, 
e as lentas contas que os dedos contaram

por entre cabelos suspensos do ar - 
nessa noite em que não houve madrugada 
desfiando um terço sem deus nem tabuada.

Nuno Júdice

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