quarta-feira, 23 de outubro de 2013

OUTROS CONTOS

«Flash», por AC.
«Flash»
Conto por AC

12- FLASH

Gosto de observar estes animais… mas ao longe!

Rebuscando velhas fotografias encontrei esta que, em si, nada tem de espectacular. Mas do lado de cá da objectiva foi onde decorreu o espectáculo.

Numa tarde de passeio e relaxe parei o carro junto à vedação, onde pastavam os touros bravos, animais que muito admiro desde criança, e que não se importunaram com a presença do veículo.Baixei os vidros e preparei a máquina para fazer uns disparos. Isolei um preto e outro castanho, mais próximos e pelo contraste.

Mas…, pensei eu…, eles (os touros bravos) estão tão calmos que vou fotografá-los fora do automóvel, junto do aramado… sempre faço uma fotografia de melhor qualidade. De minolta em punho, junto à cerca ainda me ocorreu uma segunda ideia: eles (os touros bravos) nem deram sinal de me sentir por perto. Com alguma agilidade até consigo saltar para o lado de lá… e a coberto das giestas faço um flash mais perto… vai sair fotografia de capa de revista de touros.

Eis-me, pois, de cócoras, “escondido” pela vegetação…, e faço o disparo, um único, isto é, o único que consegui pressionar… e de que aqui dou notícia.

O touro castanho, como vêem, não se molestou com o ruído, ou se deu por isso tal não lhe agitou a bravura. Mas o touro preto… senhores, levantou de imediato o focinho de fera picada, na direcção do barulho feito pelo disparo, ou seja, na minha direcção, como o atesta a “impressão” revelada.

Depois aconteceu o que já não podia ser revelado: investiu bestialmente em busca do som que lhe incomodara o pasto. Ainda hoje não percebo como as minhas pernas actuaram tão velozmente e como de um salto (olímpico) fiquei do lado de lá do perigo. O monstruoso touro preto estancou a poucos metros, levantando uma nuvem de pedra solta e pó, ao mesmo tempo que expeliu duas baforadas de mau génio de dentro dos pulmões.

Da minha parte as consequências de este encontro iminente foram de somenos importância: camisa e calças estraçalhadas, um pequeno golpe na testa e arranhões vários nos braços e nas pernas…, tudo resultado do tal salto olímpico.

Ele (o touro preto) nem me tocou…

AC

1 comentário:

Anónimo disse...

Numa primeira leitura, este "flash" serviria apenas para recordação de quem o viveu. E serviria também de aviso cautelar para que a ousadia não se repetisse. Para que a exposição ao perigo fosse mais contida em próximos passeios ao campo.
Numa primeira leitura, repito, seria esta a conclusão a tirar.
Mas acontece que há quem pretenda ler para além das palavras expostas, e eu, pobre de mim, nunca me contento com a primeira impressão. E lá volto a ler e a reler, vezes sem conta, até formar uma imagem - ou uma sequência de imagens - daquilo que o autor me pretende transmitir.
Assim, nesta conformidade, consegui entender perfeitamente como um acontecimento, que não sendo banal também não era extraordinário, se transforma numa narrativa interessante e digna de ficar escrita (independentemente da sua dimensão).
Graças, sobretudo, à forma simples e despretensiosa como as palavras são servidas ao leitor.

Parabéns ao autor!

AS