quinta-feira, 31 de outubro de 2013

OUTROS CONTOS

«Regresso à Cúpula da Pena», por José Rodrigues Miguéis.

«Regresso à Cúpula da Pena»
Cúpula Mourisca de uma Guarita
Sintra - Palácio da Pena

15- «REGRESSO À CÚPULA DA PENA» 
[excerto]

Nisto, uma tropa de viajantes apressados, ajoujados de malas e sacos, atravessou o largo de corrida, a caminho da estação. Olhei o relógio lá em cima, e conferi as horas no pulso: «À 1.50 sai o rápido de Sintra», comentei. E dei um pulo. O cavalheiro que, na mesa ao lado, se esforçava por ler nas entrelinhas do jornal, sobressaltou de medo, receando talvez uma agressão. Paguei a despesa, e, atrás do grupo, que já subia os degraus da entrada, deitei a correr através do largo cheio de sol e de estrépito.

Fui direito à bilheteira:
― Sintra, ida e volta. Ainda apanho o rápido?
O empregado olhou o relógio e respondeu com placidez: 
― Tem cinco minutos.

Era então certo! Surpreendido e feliz, impaciente como há vinte anos com a lentidão dos ascensores, subi a dois e dois a escadaria. Era como se tivesse acertado com o número da sorte grande, um júbilo estranho, esta certeza tão minha de que alguma coisa continuava, um segredo só entre mim e o mundo do meu regresso... Daí a momentos, encaixado por milagre na carruagem de segunda, com este grato sabor de fumarada na língua, tornei a ouvir o apito nostálgico da locomotiva, o mesmo de há... «Mas que seca!», pensei. «Deixe o que lá vai! Hoje é hoje!»

Aqueles passeios a Sintra tinham sido sempre o meu regalo. Amava as hortas, as praias, os toiros, o futebol: mas sempre que me apetecia fugir deste simulacro de Inferno aberto em Céu ― Sintra comigo. Por lá andava todo o santo dia, de chapéu na mão, assobio na boca, a boa sombra, Seteais, as fontes, almoço no Lawrence (ou no Pombinha, conforme o orçamento), depois os Capuchos, as ruínas, a Pena... Cheguei mesmo a dormir uma noite, sozinho, nas ameias do Castelo dos Mouros. Foi no Verão, não há memória dum Agosto assim tão quente. A coisa mais extraordinária, nunca o hei-de esquecer, foi que o Sol se pôs no mesmo instante em que a Lua rompeu, e vinha cheia! Um espectáculo como nunca vi outro, nem sol da meia-noite, nem auroras boreais. Eram dois sóis, qual deles o maior, qual o mais vermelho, suspensos no horizonte, em lados opostos do mundo. Parecia uma alucinação ou um caso de espelhismo natural. Durante instantes tive a ilusão dum «fenómeno» ou cataclismo: o universo parava, e ficava retido entre aqueles dois bugalhos enormes de luz vermelha e baça... Depois o Sol afundou-se, e a Lua subiu, empalideceu, esfriou, fez-se uma lua de balada à Soares de Passos. Enfim, lá fiquei essa noite, e por sinal que me fartei de bater os queixos com frio, sem sobretudo, no Agosto mais quente de que rezam lendas encantadas.
E aqui vou eu agora a caminho de Sintra, sem mais nem menos, só porque uma tropa fandanga se lembrou de atravessar o largo, à hora a que dantes havia um rápido, e eu ali sentado a remoer problemas na esplanada do Suisso! Olhando a paisagem dura do Cacém, ocorreu-me esta pergunta estúpida: «Se ainda haverá cisnes pretos no lago?»

Chegado a Sintra, desentorpeci as pernas andando até à vila. O que sempre me atraía ali eram sobretudo as verduras, as sombras, as fontes, a paisagem, a altitude. Postado agora na arcaria ogival do Palácio Real, olhei o alto da Pena, e quis ter asas para galgar os penhascos, roçar os cimos do arvoredo, ir poisar naquelas torres e ameias dignas do Walt Disney. Mas, com franqueza, nem asas, nem pernas. Vista cá de baixo, da vila, a Pena pareceu-me um caso de respeito, ninho de águias, rochedo mitológico, amontoado de ciclopes exasperados, de garras crispadas, a agatanhar o céu. Como é que eu pude outrora trepar aquilo a pé, depois da caminhada desde Lisboa, como cheguei a fazer? E o que é que me atraía agora lá acima, que memória, que enamorado pensamento, que secreto desejo, anseio de galgar o hiato do tempo, desgarradora saudade ou largueza de vistas? Porque era ali que a vontade me estava chamando.

Corri a tomar uma tipóia que envelhecia no largo, agarrada às pilecas, e mandei bater para a Pena. Não, nem Seteais, nem Capuchinhos, nem sequer a Cruz Alta: a Pena! Daí a pouco, perna cruzada, chapéu no regaço, assobio na boca, a alma à larga, a brisa fresca no suor da calva ― por entre o gemer das molas e o bufar das bestas gastas, eu trepava a serra das serras. Mandei parar nas fontes e bebi, repetindo os gestos consabidos de quem refaz um velho conhecimento ou pratica um ritual.

José Rodrigues Miguéis

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE TOSSERS
«The Last Night On Earth»
The Last Night On Earth by The Tossers on Grooveshark
Poet'anarquista

A ÚLTIMA NOITE NA TERRA

Bem, esta noite é a nossa última noite na Terra meus amigos
Então, vamos dormir com as estrelas como nosso teto
E beija-me uma vez e por favor torná-lo bom
Poderia ser a nossa última noite até manhã
Bem, eu acho que eu sei que eu vou ser sempre
O primeiro e único para mim
Mas espero que desta vez nós dançamos este burro
O que é para ser visto agora juntos vamos ver
Oh o trem rola duro na pista de aço frio
Mas essa não é a maneira que eu estou indo
Eu vou pisar numa pomba, se ela por cima de mim voar
E no cargueiro a minha volta para "casa"

Bem, hoje à noite no fundo do lago mais profundo
Há um travesseiro para deitar-se e dormem
Apenas a vacilar nossas coroas, explode o homem de barba vermelha
E deixá-lo descer para a urze
Bem, esta noite é a última noite na Terra meus amigos
Então, vamos guardar isto juntos para sempre
E tudo em pausa e rendimento
Queime a vida através deste campo
Estrelas de hoje à noite, vamos gastá-las juntos

Em baixo encontram-se as áreas de Athenry
Onde uma vez vimos os pequenos pássaros voarem livres
Nosso amor foi na asa
Tínhamos sonhos e músicas para cantar
Agora redondo só os campos de Athenry ...

The Tossers

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

CARTOON versus QUADRAS

Mentes Brilhantes
HenriCartoon

«MENTES BRILHANTES»

-Com uma família pra sustentar,
Vai-se o ordenado nos impostos...
-Eu emprego não consigo arranjar
E tenho muitas dívidas que pagar...
-Reforma? Só no dia dos mortos!

-Responde à vossa preocupação
A senhora ministra Assuncão Pistas,
Ouçam agora com muita atenção
Mentes brilhantes, de curtas vistas...

-É fácil!... quem tem três cães,
Fica com dois depois de matar um…
-Mas se são ministros charlatães,
Mata os dois, não sobra nenhum!

POETA

CARTOON versus QUADRAS

A Crise dos Mil Dias
HenriCartoon

«A CRISE DOS MIL DIAS»

(Pensamento pós crise dos mil dias)
-Tecnicamente é o fim da recessão…?
Vai começar agora a grande depressão
Depois de mil e uma noites de tropelias!

-Zé, apesar da situação muito preta
E a tua cegueira estar por um triz,
Vem aí nuvem negra, seu cegueta!...
Não se vê palmo à frente do nariz!!

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

THE POGUES - «Modern World»
Modern World by The Pogues on Grooveshark
Poet'anarquista

MUNDO MODERNO

Maria vendendo flores
Numa tenda no EC1
Hoje à noite ela vai estar à procura de algum divertimento
Seu companheiro Gerry no porão
Ele não tem uma casa
Mas orgulha-se de que ele tem a maioria das coisas

Enquanto isso, eu estou em cima do telhado
Esperando o sol a brilhar
Eu não tenho uma desculpa
Então eu vou manter minha cabeça para baixo

David na cidade
Ele só fez um acordo
E os garotos que querem levar suas calças para baixo
Então, eles compram algumas pequenas pílulas
Que fará pobre David doente
E se o encontram em algum centro de clube

Enquanto isso, desci do telhado
A chuva continua caindo
E eu não tenho a menor ideia
Por que não há fé em todos estes palhaços

Este é o mundo moderno ...

Jim e Jane atingiram a videira.
Com eles estão procurando uma festa
O número secreto sabe onde ele pode ser encontrado
Então eles pegaram Pete e Sheila
E eles cabeça para baixo ao ver M40
Mas alguém disse que fechou o país em baixa

Enquanto isso, eu me tranquei na cozinha
Esperando a tempestade passar
E se há muito dano
Acho que vou dar o fora rápido

Este é o mundo moderno ...

The Pogues


«O VINHO PERDIDO», POR PAUL VALÉRY

30 de Outubro de 1871, nasce o poeta francês Paul Valéry. «O Vinho Perdido» é hoje o poema escolhido. Pode por aqui- «POESIA - PAUL VALÉRY», ficar a conhecer um pouco mais sobre vida e obra deste escritor ligado à escola simbolista francesa. Boas leituras!
Poet'anarquista
«Provar o Vinho»
Yuroz

O VINHO PERDIDO

Eu tenho, algum dia, no oceano, 
(Mas eu não sei mais se debaixo de que céus), 
Lançado, como não me oferecendo ao nada, 
Todo um pequeno precioso vinho...

Quem quis esta perda, oh licor? 
Eu obedeço, talvez ao vidente? 
Talvez para a preocupação de meu coração, 
Pensando em sangue, vertendo-me vinho?

Em transparência habitual 
Depois da fumaça rosa 
Recupera-me como o mais puro mar...

Perdido o vinho, misturado entre as ondas!... 
Eu cuidei de saltar meu ar amargo 
Das faces mais profundas...

Paul Valéry

terça-feira, 29 de outubro de 2013

ESPECIAL MÚSICAS DO MUNDO

E a música especial de hoje é...
(29 de Outubro de 1987, morre o clarinetista norte-americano Woody Herman)

WOODY HERMAN - «Chips' Blues»

«POEMA DA AMANTE», POR ADALGISA NERY

29 de Outubro de 1905, nasce a poetisa brasileira Adalgisa Nery. A proposta de hoje com o título «Poema da Amante», no espaço de poesia e dos amantes de poesia. Boa leitura!
Poet'anarquista
«Amantes»
Orlando Arias Morales

POEMA DA AMANTE

Eu te amo
Antes e depois de todos os acontecimentos
Na profunda imensidade do vazio
E a cada lágrima dos meus pensamentos.

Eu te amo
Em todos os ventos que cantam,
Em todas as sombras que choram,
Na extensão infinita dos tempos
Até a região onde os silêncios moram.

Eu te amo
Em todas as transformações da vida,
Em todos os caminhos do medo,
a angústia da vontade perdida
E na dor que se veste em segredo.

Eu te amo
Em tudo que estás presente,
No olhar dos astros que te alcançam
E em tudo que ainda estás ausente.

Eu te amo
Desde a criação das águas, desde a ideia do fogo
E antes do primeiro riso e da primeira mágoa.

Eu te amo perdidamente
Desde a grande nebulosa
Até depois que o universo cair sobre mim
suavemente.

Adalgisa Nery

OUTROS CONTOS

«A Choca», por Trindade Coelho.
«A Choca»
A Galinha e os Pintos, por José de Sousa Moura Girão (1884)

16- «A CHOCA»

Ao Senhor Emídio Navarro

Aquela tarde, a Choca recolhera ao poleiro mais cedo do que o costume. Atrás dela, lembrando doze novelitos de ouro a mexerem-se como por milagre, os doze filhinhos tinham seguido a mãe, – e lá dentro, qual deles com mais dificuldade, um a um tinham-se encarrapitado no velho cesto de palha onde faziam a cama, aninhando-se, o melhor que puderam, debaixo da asa materna.

Eles mesmos tinham estranhado recolher tão cedo aquela tarde, os pequenitos; – mas, cá fora, o rancho das outras galinhas atribuía isso à doença da Choca, porque a pobre, com o gogo, metia dó com tamanho sofrer! Um pouco aterradas, tinham assistido havia três dias a essa operação que a Choca sofrera, e que certas delas, na grei, sabiam muito dolorosa. A pena que lhe espetara no pescoço a velha que cuidava delas, fora o mesmo que nada, – e se mal estava, pior ficara, a pobre! Ainda a trazia, essa pena, mas quase seca porque não purgava; e entretanto, sem bem lhe fazer, afligia-a como se fosse um estigma, – tanto ou mais que a própria doença...

Por isso recolhera cedo, a Choca; deixando fora, pelo terreiro, gozando ainda o seu resto de tarde, o rancho das companheiras.

Ai, eram bem felizes, essas! Pelo buraco do poleiro, sentia-as agora cacarejar, – e não tardaria que o milho do recolher, que a velha, todas as tardes, trazia para elas no seu mandil, alvoroçasse no prazer do costume, em que por via de um grão, às vezes, havia entre todas rixas alegres, o bando das companheiras...

Só ela, doente, quase já não sabia o que era comer; – e ainda essa tarde, morta de sede, invejara a gotinha de água que um ou outro dos seus pintainhos, beberricando na pia, deixava, depois de saciado, cair do biquinho como uma pérola.

Mas nem comer nem beber, ela, que era muita a gosma, e não podia! E pelo que tocava a cacarejar, nem o bastante para a ouvirem os filhos, para os admoestar, para os dirigir, – quanto mais para uma dessas tiradas que outrora lhe haviam feito, ao romper da manhã, a sua fama de cantadeira! Galos que ela apaixonara, ciúmes em que fizera arder tantas rivais, ralhos, intrigas, combates, – como tudo isso ia longe, agora! Nos bebedouros, ela mesma senamorara da sua figura esbelta, muitas vezes; – e que o não adivinhara na devoção dos galos, de tantos que a tinham amado, e que ao aclarar das manhãs, todos os dias, lhe declaravam o seu amor dos poleiros à roda,– adivinhara-o na inveja das outras, esse prestígio mágico da sua beleza...

Certo galo, sobretudo, agora já velho, – e, como ela, agora já também sem entusiasmos, dir-se-ia que o enfeitiçara; e agora mesmo, vendo-a recolher cedo com a ninhada, esse velho e trôpego apaixonado (mas belo, ainda assim, na sua justa decrepitude) não tardara a recolher-se também. Subtil, passara, sumira-se ao fundo na sombra densa; e erguendo um voo pesado, sentira-o aninhar-se onde passava as noites, numa trave a um canto do poleiro. Cansaço talvez da vida, talvez doença também, – quem lhe dizia a ela, entretanto, que ele se não recolhera por a ver recolher, por a ver doente, por um impulso de compaixão, que era agora, talvez, como a agonia do seu velho amor?!

Pelo que respeitava às companheiras, as da sua geração eram já poucas; e essas, como ela própria, mais saudosas da mocidade, do que lembradas; e quanto às novas, muitas criara-as ela, – e, sobretudo, não era já dela que tinham ciúmes...

De resto, ela mesmo era boa companheira; e tirante algum fogacho de génio por amor dos filhos, se tinha de os proteger ou se lhos ofendiam, até no comedouro era moderada e no bebedouro; – e muitos pintainhos doutras ninhadas queriam-lhe como se fosse avó, e os frangos, uma vez por outra, ela própria, de manhã, ensinava-os a cacarejar.

Ah, mas esse bom tempo ia passado! Já chocara a ninhada com pouca saúde; e surpreendendo-se, às vezes, sem paciência para aturar os filhos, ignorava se seria por isso, se por a verem talvez doente, que eles mesmos, coitadinhos, pareciam às vezes também doentes!

...Entretanto, eles tinham-se aninhado todos, o melhor que lhes fora possível, debaixo da asa materna; – e embora muito enferma, ela era feliz, ainda assim, por ter tão quentes os seus pequeninos, – e agora, por certo, todos a dormir e talvez sonhando..

Trindade Coelho, Os Meus Amores, Lisboa, 1891

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

JETHRO TULL - «Jack-A- Lynn»
Jack-A-Lynn by Jethro Tull on Grooveshark
Poet'anarquista

JACK-A-LYNN

Frios aeroplanos, lentos barcos, trens aquecidos
me fazem lembrar de Jack-A-Lynn
Hotéis luxuriantes e belas garotas
não alegrarão o humor enevoado que há em mim.
bobo e triste; eu nunca tive que escrever isto antes.
Oh Jack-A-Lynn.

Engraçado como noites longas permitem
pensamentos sobre Jack-A-Lynn
Quando fantasmas rondam minha cama
Para oferecer-me os sonhos inquietantes que eles trazem
E esta é a exata hora e o exato lugar para encontrar
uma triste canção para tocar
para Jack-A-Lynn

Palhaços que gargalham, velhas botas que gotejam
me ligam a Jack-A-Lynn
Gatos pretos como carvão em chapéus de policiais
farejando onde o rato pode estar.
E o longo miado está começando agora
e eu estou longe, longe de casa
e de Jack-A-Lynn.

Jethro Tull

PINTURA - R. B. KITAJ

O pintor estadunidense, mais tarde nacionalizado britânico, Ronald Brooks Kitaj ou simplesmente Ron B. Kitaj, nasceu em Cleveland, Ohio, a 29 de Outubro de 1932. O seu trabalho teve grande influência na pop arte britânica e é reconhecido como um dos principais desenhistas do mundo. Kitaj faleceu em Los Angels, a 21 de Outubro de 2007.
Poet'anarquista
Ron B. Kitaj
Pintor Norte-Americano

«Auto-Retrato»
Ron B. Kitaj
PERFIL DO ARTISTA…

Ronald Brooks Kitaj nasceu em Ohio, EUA, em 1932. 

Foi marinheiro mercante  num cargueiro norueguês, quando tinha 17 anos. 

Estudou na Akademie der Kunste Bildenden em Viena e no Cooper Union, em Nova York. 

Após servir no exército dos Estados Unidos durante dois anos, na França e na Alemanha, mudou-se para Inglaterra onde estudou na Escola de Ruskin de Desenho e Belas Artes, em Oxford, e depois no Royal College of Art, em Londres, ao lado de David Hockney, Allen Jones e Patrick Caulfield.

Kitaj teve uma influência significativa sobre a arte pop britânica e foi reconhecido como sendo um dos principais desenhistas do mundo. 

Nos seus últimos anos de vida, desenvolveu uma maior consciência da sua herança judaica, considerando-se um «judeu errante». 

Foi premiado com Real Académico em 1991 e o Leão de Ouro na Bienal de Veneza em 1995.
Exemplos do seu trabalho são realizados na maioria das grandes colecções públicas em todo o mundo.

Kitaj cometeu suicídio em 2007, oito dias antes de seu 75 º aniversário.
Fonte: www.goldmarkart.com/
«Frank Auerbach & Sandra Fisher»
Ron B. Kitaj

«Mary Ann»
Ron B. Kitaj

«Mary Ann a Fumar»
Ron B. Kitaj

«O Chapéu Amarelo»
Ron B. Kitaj

«A Menina Piconera»
Ron B. Kitaj

«Junta/ Excerto»
Ron B. Kitaj

«Judeu»
Ron B. Kitaj

«Ouvinte»
Ron B. Kitaj

«DESENHO & POP ARTE»
RON B. KITAJ

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

«BOCAGE E AS LÉSBICAS»

O grande poeta Bocage, certo dia ao entrar por engano no quarto dum hotel onde estava hospedado, deu de caras com duas lésbicas em cenas mais íntimas... 

Saíram-lhe de imediato os seguintes versos:

«Lésbicas»
Carruço

BOCAGE E AS LÉSBICAS

Meninas que sois tão boas,
porque estais a fazer isso?...
Porque comeis pão com pão,
se é tão bom pão com chouriço?

Bocage

PS- E agora pergunta ela... como é que ele sabia?
(kkkkkkk)
  

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...

MUSIC FROM THE WORLD OF OSHO
«Rhythm of Life»

domingo, 27 de outubro de 2013

ESPECIAL MÚSICAS DO MUNDO

E a música especial de hoje é...
(27 de Outubro de 2013, morre o guitarrista, cantor e compositor norte-americano, Lou Reed)

Lou Reed
Músico e Poeta Norte-Americano

LOU REED
«Men of Good Fortune»
Poet'anarquista

HOMEM AFORTUNADO

Homens afortunados, frequentemente fazem impérios caírem
Enquanto muitos homens de origens pobres, frequentemente não podem fazer nada
O filho rico espera pela morte de seu pai
O pobre só bebe e chora
E eu não me importo com nada

Homens afortunados, frequentemente não conseguem fazer uma coisa
Enquanto homens de origens pobres, frequentemente podem fazer qualquer coisa
No fundo, eles tentam agir como homem
Eles tentam lidar com isso da melhor maneira possível
Eles não tem pais ricos que os reergam

Homens afortunados, frequentemente fazem impérios caírem
Enquanto muitos homens de origens pobres, frequentemente não podem fazer nada
É preciso ter dinheiro para fazer o dinheiro que eles dizem
Olhem para os Fords, mas eles não começam dessa maneira
De qualquer forma, isso não faz diferença para mim

Homens afortunados, frequentemente o querem morto
Enquanto os homens de origens pobres, desejam o que eles têm
E para obter isso, eles têm que morrer
Todas essa grandes coisas que existem vivem para se dar
Eles querem possuir dinheiro e viver
Mas eu, eu não me importo com nada disso

Homens afortunados
Homens de origens pobres

Lou Reed

CARTOON versus QUADRAS

História do Capuchinho
HenriCartoon

«HISTÓRIA DO CAPUCHINHO»

-Vou usar diplomacia fonética:
Abre a porta se não armo estrilho
Com cenas de violência doméstica!…
Sou eu, o Emanuel Marya Sarilho!!

-A tua filha tem medo de ti, ouviste?...
Não admito que me tornes a bater!!

-Mamãe, afinal o lobo mau existe…
Será que ele veio para nos comer??

POETA

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(27 de Outubro de 1782, nasce o violinista e compositor italiano, Nicolo Paganini)

NICOLO PAGANINI 
«Triste Romance Violino»

OUTROS CONTOS

«Quem tem um filho...», por Orson W. Calabrese.

Conto Segundo
«Templo Sagrado»
JPGalhardas

15- «Quem tem um filho...»

(Durante muitos séculos foi o Deus Endovélico venerado por celtas, fenícios, cartagineses e romanos, na região que hoje denominamos por Alentejo. A narrativa que se segue, teve lugar aquando da permanência romana na península ibérica, numa época já muito próxima da ocupação religiosa pela crença cristã.)

Texto de lápide votiva encontrada nas ruínas da ermida de S. Miguel Arcanjo, na herdade da Mota:«ENDOVELLICO SACRVM MARCVS IVLIVS PROCVLVS ANIMO LIBENS VOTVM SOLVIT».Tradução: Dom consagrado ao deus Endovélico. Marco Júlio Próculo de boa mente cumpriu o seu voto.
 «Marco Júlio Próculo»
Busto Romano/ Foto: Poet'anarquista

Marco Júlio Próculo era um cidadão romano, já nascido na península ibérica, que mantinha uma grande casa agrícola, junto à confluência da Ribeira Sagrada com o Rio Anas, num local hoje conhecido por Sítio das Águas Frias, ali nas proximidades da actual Aldeia do Rosário. Homem já com uma certa idade, tinha como desgosto maior o facto de não ter descendentes. Último membro de uma nobre família romana, há cerca de um século radicada na península, passara incólume por todas as mudanças políticas operadas na capital do império. Resistira a todas as intrigas dos nobres, seus pares, e conseguira manter intacto o prestígio do seu bom nome e da sua família, assim como a enorme propriedade, herdada dos pais que, por sua vez, já a tinham herdado dos antepassados.

No ano anterior ao episódio que pretendemos narrar, deslocara-se a Roma, a fim de dar explicações à família da esposa, sobre as condições em que esta falecera, vítima de febres desconhecidas, de nada valendo todos os esforços que fizera para a curar das maleitas porque fora tomada.

Regressou casado de novo. Desta vez, com a irmã mais nova da anterior mulher. O nobre senador, pai das duas, convencera-o a desposar a cunhada, justificando essa atitude com a intenção de manter a família agregada. Os deuses se encarregariam de solucionar a vinda do herdeiro, vital para a manutenção do património familiar em boas mãos. A rapariga era uma mulher alta, de pele branca e sedosa, olhos amendoados e cabelos negros. Corpo elegante, a condizer. Já que o casamento anterior não lhe trouxera filhos, seria a vez da nova mulher tomar como obrigação esse encargo, pensava Marco Júlio Próculo.

«A nova esposa de Marco Júlio Próculo»
Erotismo, por JPGalhardas
 E tomou. Já vão ver como.

Assim que se instalou na “villae”, junto à foz da Ribeira Sagrada, manteve debaixo de olho um jovem escravo que tratava das cavalariças. Era um rapaz de estatura meã, moreno de tez, barbudo, pernas arqueadas de tanto cavalgar, feito escravo durante uma das frequentes escaramuças entre romanos e lusitanos. Estes, sempre indomáveis e nunca se dando por vencidos.. Não muito asseado, reconhecia ela, habituada aos banhos romanos e aos perfumes exóticos. Mas, à sua maneira, atraente – achava a dona.

Entretanto, Marco Júlio Próculo, que tinha incluído o nativo Deus Endovélico, no mesmo altar dos seus deuses romanos, prometia grandes dádivas e sacrifícios na ara sagrada se fosse agraciado com a vinda de um herdeiro. E foi. Foi agraciado com o nascimento de um filho. Exactamente duzentos e setenta dias depois da sua mulher se ter rebolado com o escravo nos montes de palha da cavalariça.

«Lápide do Espólio de S. Miguel da Mota» 
Museu Nacional de Arqueologia

E a lápide, quase dois milénios depois, aí está para o atestar. Está embutida na parede do adro coberto da Igreja dos Agostinhos, em Vila Viçosa, logo à mão direita de quem entra.

FIM

Orson W Calabrese

ATT – Alguns dados incluídos nesta ficção, foram retirados de ensaios escritos pelo Padre Joaquim Rocha Espanca e pelo cientista Leite de Vasconcelos.

sábado, 26 de outubro de 2013

OUTROS CONTOS

«Quem faz um filho...», por Orson W. Calabrese

Conto Primeiro
 «Gaditana»
Rosto de Jovem Rapariga, por Silva Porto

14- «Quem faz um filho...»

Ao ouvir cantar o chocalho do chibo velho, Gaditana começou a pôr a mesa, isto é, dispôs a gamela e as colheres de madeira, a corna das azeitonas e a pequena bilha da água sobre meio tronco de uma árvore, toscamente cortado, e suportado por quatro pés embutidos. O pequeno alpendre que servia de local para as refeições, era também a entrada para a única dependência da casa. Ainda debaixo do alpendre fervia, numa pequena panela de barro, sobre um braseiro faiscante, um cozido de cabrito com beldroegas, recentemente colhidas nas margens da ribeira que corria junto ao cabeço em que a casa se situava. Esta, de formato redondo, tinha paredes de lajes de xisto sobrepostas, argamassadas com cal e barro e tecto de junco disposto em várias camadas, suportado por  um grosso tronco de madeira, grosseiramente aparado.

«Táutalo»
Guardando o Rebanho (pormenor), por Silva Porto

Táutalo, companheiro de Gaditana, e assim chamado em homenagem a um antigo chefe lusitano, regressava a casa, ao anoitecer, com o pequeno rebanho de caprinos que constituía todos os seus bens, fazendo-se anunciar pelo badalar do chocalho do chibo. Ao lado da casa ficavam os currais do gado e a choça em que guardavam as alfaias agrícolas, pouco mais que algumas foices, um machado e uma gadanha. Este pequeno conjunto de construções, muito precárias, como se vê, situava-se num outeiro em frente de um antigo povoado, abandonado nas margens da ribeira, e que mais tarde, bastante mais tarde, viria a ser conhecido como “Castelo Velho”.
«Castelo Velho» (Povoado Milenar)
Calcolítico/Bronze Final/Idade do Ferro/Época Islâmica 

Após a ceia, mal o sol tinha desaparecido no horizonte, o jovem casal deitou-se, depois de estender algumas peles de cabra sobre um monte de folhas secas, e tapou-se com uma pesada manta de curtidas peles a fim de iludir o frio que se fazia sentir, soprado pelo vento, vindo dos lados da serra d’Ossa.

Poderia este pequeno conto ficar por aqui. Mas não fica. Se ficasse, que justificação teria o título desta narrativa? É necessário, pois, acrescentar alguma coisa mais!

Tratando-se de dois jovens, mal saídos da puberdade, em plena pujança da vida, que pelos critérios actuais nem dezoito anos teriam, a natureza forçosamente lhes pediria mais. Adoradores de Endovélico, cujo santuário se situava nas proximidades, acreditavam na fertilidade da vida e tudo faziam para que essa fertilidade se concretizasse. Mal se deitaram, sentiram-se tomados por todos os desejos próprios da sua condição.

 «Deitada de Costas»
Masturbação, por JPGalhardas

Ela, deitada de costas, com as pernas afastadas e o homem no meio delas. Olhos nos olhos. Sem palavras, mas com gestos muito carinhosos. Beijaram-se, se por acaso beijos, tal como os entendemos hoje, aconteciam nessa época. A mulher dobra as pernas e arqueia os flancos para a penetração ser mais profunda e o gozo mais completo. O acto inteiro apenas demorou alguns momentos. Momentos de plena satisfação! Foi bom para ela e foi bom para ele. E também foi bom para a Humanidade! Contribuíu, para além de tudo o resto, para a continuidade da espécie.

Várias luas depois foram agradecer a Endovélico o nascimento do seu primeiro filho. Um belo rapagão. Parido naquela mesma cama de folhas secas, sobre as macias peles de cabra.

«Agradecimento ao Deus»
Deo Endovélico Sacrum, por JPGalhardas

O agradecimento ao deus Endovélico concretizou-se no sacrifício de um cabrito e na oferta de uma lápide. Talvez uma daquelas lápides que Leite de Vasconcelos levou para Lisboa cerca de dois mil anos depois!

FIM

Orson W. Calabrese

MÚSICAS DO MUNDO

E a música de hoje é...
(26 de Outubro de 1942, nasce o cantor e compositor brasileiro, Milton Nascimento)

MILTON NASCIMENTO
«Planeta 'Blue»
Planeta blue by Milton Nascimento on Grooveshark
Poet'anarquista

PLANETA 'BLUE

Eu sou atlantica dor
plantada no lado do sul
de um planeta que vê
e que é visto azul

Mas essa primeira impressão
esse planeta blue
não é a visão mais real
além de cor, 'blue' é também muito triste
pode ser o lado nu, o lado pra lá de cru
o lado escuro do azul

Eu sou um homem comum
eu sou um homem do sol
eu sou um 'african man'
um 'south american man'

A fome continental
miséria que o norte traz
a fome que a morte vem
a fome não vem da paz

O ódio que o ódio tem
se espalha bem mais veloz
que a água que a chuva traz
que o grito da nossa voz

Eu sou um homem qualquer
estou querendo saber
se dá pra gente viver
se dá pra sobreviver

Quero saber de coração
se nossa humanidade
e este planeta vão poder prosseguir

Quem sabe a terra segue o seu destino
bola de menino pra sempre azul
Quem sabe o homem mata o lobo homem
e olha o olhar do homem que é seu igual

Quem sabe a festa chega a floresta
e o homem aceita a mata e o animal
Quem sabe a riqueza?
e toda a beleza estará nas mesas da terra do sul

Eu sou atlantica dor
plantada no lado do sul

Milton Nascimento

CARTOON versus QUADRAS

De Mal a Pior
HenriCartoon

«DE MAL A PIOR»

-Esta situação está a dar cabo de mim...
Já nem o Horroroso me dá alegrias,
Não se vislumbram melhores dias,
De mal a pior, nunca mais tem fim!

Sem emprego, trago esta mágoa
De ver tantas goteiras no telhado,
A casa por todo o lado mete água…
Pior não pode, estou encharcado!

-Ai pode, pode!... espera sentado
Que depressa morres afogado!!

POETA

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

CARTOON versus SONETO

Os Riscos do Orçamento
HenriCartoon

«OS RISCOS DO ORÇAMENTO»

-Com intenção este orçamento
Está repleto de raios e coriscos,
Pra não falar nos muitos riscos
E do geral descontentamento…

-Percebo, Fedelho, como percebo,
Acho que até estás a ser brando…
Acrescento riscos ao memorando,
Nada te peço em troca ou recebo!

-Amigo Zé, sabia que entenderias…
Diz-me logo que riscos são esses
Favorecendo os meus interesses?

-Risco em cruz todas as porcarias
Visto só encontrar aí anomalias…
Era óptimo que desaparecesses!!

POETA

«AQUELE MAR» versus «MAR DE ODECEIXE»

25 de Outubro de 1960, morre em Lisboa o poeta português João de Barros. «Aquele Mar», poema que hoje se publica no espaço de poesia, assim como dedicatória de Matias José ao seu homólogo, com o título «Mar de Odeceixe». Pode ainda ler por aqui- «POESIA - JOÃO DE BARROS», sobre vida e obra do autor português.
Poet'anarquista
João de Barros
Poeta Português, por A. Taborda

AQUELE MAR

Aquele mar
da minha infância,
bom camarada e meu irmão
a sua voz, o seu olor, sua fragrância
tanto os ouvi e respirei
que trago em mim o seu largo ritmo,
seu ritmo forte,
como se as praias onde espuma
quase me fossem
praias sem fim dentro de mim
ocultas praias, largas praias
do tumultuoso coração…

Aquele mar
meu confidente de horas idas
tudo escutava e adivinhava
do meu pueril e ingénuo anseio.
Nada sonhei que o não dissesse
– frémito de alma, grito ou prece –,
às madrugadas e aos poentes,
ao sol, às nuvens, ao luar,
ora nascendo, ora morrendo
nos longos, longos horizontes
em que se perdia o meu olhar…

Aquele mar
na calma azul, no temporal,
nunca mentia: era um só beijo,
hálito puro, largo harpejo
que me entendia e respondia
no seu inquieto marulhar…
Moço e menino, solitário,
rochas, falésias, areais
eu coroava-os de alegria
nos meus passeios matinais.
Ou nalgum barco pescador,
velas abrindo a todo o pano,
do oceano então era senhor,
largava a escota, navegava,
no vão desejo de aventuras,
que não chegava a realizar…

Mas era meu, e eu pertencia-lhe,
àquele mar,
era seu filho, escravo e dono,
sorria à sua Primavera,
amava a luz do seu Outono,
o vivo lume dos estios
a violência dos Invernos
longos clamores de temporais.
Aflito voo das gaivotas
junto das negras penedias,
também como ele me perdias,
nas tardes tristes e sombrias,
na bruma gélida das noites…
E a eternidade então ouvia
humano sonho sempre esquecido
na eterna voz que fala o mar.

João de Barros

«Mar de Odeceixe»
Poema de Matias José

ODECEIXE MAR

Tarde calma... sem mar revolto,
Na praia a maré-alta se anuncia,
Sempre o mesmo lugar onde volto...
Um prenúncio?... Talvez profecia!?

As mesmas casas ali defronte
Para o mar todos os dias…
Guardião das ondas... Rinoceronte,
Guardas segredos e magias!

Oh!... Mar salgado que envolves
Esse teu manto azul de céu,
Vens!... Vais!... Espero que voltes
E me envolvas nesse véu!

Se puderes... leva contigo
O sorriso de um olhar,
Ou este amor antigo
Que tenho para te dar!

Mar de Odeceixe... infinita Beleza,
Dádiva Santa da Natureza!!!

Matias José 

JOHN STEINBECK

25 de Outubro de 1962, era atribuído ao escritor estadunidense John Steinbeck, o Prémio Nobel da Literatura. Pode consultar aqui- «LITERATURA - JOHN STEINBECK». A sua fábula «Ratos e Homens», sobre a amizade e o sonho americano, é uma obra prima da literatura e um dos romances mais bem conseguidos do autor. É dele que hoje lhe falamos...
Poet'anarquista
Caricatura de John Steinbeck
Escritor Norte-Americano
SOBRE «RATOS E HOMENS»...

Publicado em 1937, «Ratos e Homens» conta a história de dois pobres diabos, George e Lennie, que vivem de trabalhos episódicos e sonham com uma vida tranquila, com a hipótese de arranjar uma quinta em que possam dedicar-se à criação de coelhos.

George é quem lidera, é aquele que toma as decisões e protege o seu amigo, sem no entanto deixar de depender da amizade e da força de Lennie. Este é um gigante simpático, dotado de um físico excepcional, mas mentalmente retardado. E ambos acabam por envolver-se em mil e uma complicações, quando, no rancho onde finalmente encontram trabalho, a mulher do patrão entra em cena...

Adaptado ao teatro, e várias vezes ao cinema, «Ratos e Homens», que na verdade constitui uma fábula sobre a amizade e o sonho americano, é uma obra-prima da literatura realista, e um dos mais importantes romances de John Steinbeck. 

«Ratos e Homens»
Romance de John Steinbeck

RATOS E HOMENS
(Pequeno excerto)

—Mas nós não! — interrompeu Lennie. — E por quê? Porque... porque eu tenho você
pra tomar conta de mim e você me tem pra tomar conta de você, é por isso. —Riu, encantado.
— Agora continua, George!

—Você sabe tudo de cor. Pode até contar você mesmo.

—Não, conta você. Eu esqueço umas coisas. Conta como vai ser.

—Tá bem. Um dia... vamos juntar uma gaita e ter uma casinha e um pedaço de
terra, uma vaca, uns porcos e...

—E vamos viver no bem-bom! — gritou Lennie. 

— E ter coelhos. Continua, George!
Conta o que a gente vai ter no jardim e fala dos coelhos nas gaiolas, da chuva no
inverno e da estufa, e como a nata do leite vai ser tão gorda que a gente nem vai
poder cortar. Conta, George.

John Steinbeck