sexta-feira, 16 de agosto de 2013

2 SONETOS DE ANTÓNIO NOBRE

16 de Agosto de 1867, nascia no Porto o poeta português António Nobre. Tal como os poetas Cesário Verde, Guerra Junqueiro e Antero de Quental, entre outros, teve uma enorme influência, diria mesmo decisiva no modernismo português. Nomes grandes da corrente modernista portuguesa de então, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, foram fortemente influenciados pela escrita de António Nobre.
Poet'anarquista
António Nobre
Poeta Português

PAZ!

E a Vida foi, e é assim, e não melhora. 
Esforço inútil, crê! Tudo é ilusão... 
Quantos não cismam n'isso mesmo a esta hora 
Com uma taça, ou um punhal na mão! 

Mas a Arte, o Lar, um filho, António? Embora! 
Quimeras, sonhos, bolas de sabão. 
E a tortura do além e quem lá mora! 
Isso é, talvez, minha única aflição... 

Toda a dor pode suportar-se, toda! 
Mesmo a da noiva morta em plena boda, 
Que por mortalha leva... essa que traz... 

Mas uma não: é a dor do pensamento! 
Ai quem me dera entrar n'esse convento 
Que há além da Morte e que se chama A Paz! 

António Nobre

QUE ABORRECIDO!

Meus dias de rapaz, de adolescente, 
Abrem a boca a bocejar sombrios: 
Deslizam vagarosos, como os rios, 
Sucedem-se uns aos outros, igualmente. 

Nunca desperto de manhã, contente. 
Pálido sempre com os lábios frios, 
Oro, desfiando os meus rosários pios... 
Fora melhor dormir, eternamente! 

Mas não ter eu aspirações vivazes, 
E não ter, como têm os mais rapazes, 
Olhos boiando em sol, lábio vermelho! 

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso: 
E não sei, sendo assim, enquanto moço, 
O que serei, então, depois de velho... 

António Nobre

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