segunda-feira, 8 de julho de 2013

NOVA CARTA ARQUEOLÓGICA DO ALANDROAL

Lançamento «O Tempo dos Deuses - Nova Carta Arqueológica do Alandroal». Texto de apresentação da obra que, para além de científica pretende ser de Arqueologia Pública, para que os não arqueólogos possam igualmente fazer uso dela. Muito obrigado aos autores Manuel Calado e Conceição Roque!
Poet'anarquista
Nova Carta Arqueológica do Alandroal
Autores: Manuel Calado e Conceição Roque

 O Tempo dos Deuses. A Nova Carta Arqueológica do Alandroal
  «Texto de apresentação por Conceição Roque»             

Agradecimentos

Queria, antes de mais, agradecer a todos os que contribuíram para que esta obra se concretizasse.

Em primeiro lugar, ao Professor Manuel Calado, que me propôs fazermos juntos este projecto e me deu a oportunidade, e a honra, de com ele o trabalhar e, como sempre, aprender e abrir novas perspectivas.

À Câmara Municipal do Alandroal, em particular ao seu presidente, Dr. João Grilo, por ter acreditado e apoiado o projeto da Nova Carta, percebendo desde logo o papel fundamental que o património arqueológico pode ter para o desenvolvimento local.

À faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, pela bolsa de investigação que me foi concedida e ao seu director, Professor Luís Jorge Gonçalves, a quem agradeço a atenção que desde o início prestou ao projecto e o empenho no processo que nele resultou.  

Ao Paulo Tatá, que volta a participar na Carta Arqueológica do Alandroal; desta vez ajudou, e bastante, na elaboração dos mapas.

A todos os que participaram nas novas prospecções, com especial realce para o Rui Mataloto, com quem percorri os territórios de fronteira, a Ana Maria Roque, o Carlos Galhardas, o João Coelho e o grupo de jovens do Alandroal que me acompanhou em algumas saídas de campo ( o João Bernardino, a Patrícia Fitas, a Joana e a Sara Simplício, a Rita e o André Carruna.)

Aos que participaram através da informação oral e a toda a população do concelho do Alandroal.

Porquê uma nova Carta arqueológica?

A primeira edição da Carta Arqueológica do Alandroal, publicada pelo município em 1993 e coordenada pelo Prof. Dr. Manuel Calado, surgiu, de certo modo, como uma obra percussoras dentro do seu género. A sua preparação envolveu diversos e importantes contributos: O Município, professores e alunos do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, associações e cidadãos locais.

Do trabalho de campo levado a cabo na altura e da compilação dos dados já existentes, resultou um conjunto de informação que concorreu, de modo decisivo, para a alteração da visão geral que se tinha da ocupação do território. Deu, assim, uma importante prestação para o enriquecimento do panorama arqueológico nacional.

No decorrer do projeto promoveu-se a realização de um curso profissional que proporcionou a formação de técnicos de campo nas diferentes vertentes do trabalho arqueológico. Este foi um contributo relevante para o emprego de jovens da região, em especial se tivermos em conta que a construção da Barragem de Alqueva anunciava a necessidade de mão-de-obra especializada.

A primeira edição da Carta arqueológica do Alandroal teve, também, reflexos num aumento do turismo no concelho ao dar a conhecer e divulgar lugares como a Rocha da Mina, de alguma maneira ligada ao já conhecido Endovélico. Associados a uma paisagem peculiar, os sítios arqueológicos mostraram que, mesmo que em pequena escala, são capazes de atrair público, concorrendo para o desenvolvimento local.

O professor Manuel Calado referiu no seu texto, como as Cartas arqueológicas se enquadram no conceito de Arqueologia Pública, na medida em que sendo um trabalho de base científica, pode ser realizado com o envolvimento e a participação da comunidade, cooperando ao mesmo tempo para o reforço da auto-estima das populações e para o desenvolvimento local e regional. Vista à distância de duas décadas, num tempo em que o termo era mal conhecido e pouco praticado por cá, a primeira Carta Arqueológica do Alandroal foi, definitivamente, um projecto de Arqueologia Pública.

Contudo, e apesar do seu contributo para a Arqueologia portuguesa e para o desenvolvimento local, a natureza deste género de obra não permite dá-la por concluída, ou seja, é um documento aberto, tal como o seu autor o assume na introdução. O extenso território que o concelho abrange justificava, por si só, a continuação das prospeções e a realização de uma revisão.

Todavia, um elemento incontornável na realidade regional veio reforçar, decisivamente, a necessidade de atualização: a construção da Barragem de Alqueva.

Em primeiro lugar, as Medidas de Minimização de Impacto sobre o Património Arqueológico que promoveram diversas e numerosas intervenções arqueológicas que resultaram num vasto conjunto de novos dados, alguns deles obrigaram mesmo à reformulação da ideia que se tinha do povoamento na região e da utilização do território. Esta nova informação obtida necessitava, assim, de ser compilada, analisada e divulgada.

Em segundo, as alterações previstas para o uso dos solos: A abundância de água ao dispor de agricultores e outros agentes económicos, facilita o desenvolvimento de novas práticas agrícolas e o surgimento de empreendimentos turísticos que tornam particularmente delicadas as áreas junto à cota de enchimento da barragem; as prospeções realizadas nessa parte do território concelhio foram, e continuam a ser, necessárias como ações de prevenção.

A Nova Carta

Face ao exposto acredito terem sido reunidas razões válidas e suficientes para fundamentar a continuação do trabalho iniciado em 1992 e refletido na publicação da primeira Carta Arqueológica do Alandroal.

Os Novos dados

De entre os muitos dados trazidos pelos trabalhos do Alqueva destaco:

A arte rupestre que foi, sem dúvida, a grande novidade trazida pelos trabalhos do Alqueva; constituí uma realidade até à dada desconhecida nesta larga extensão de rio. Distribuídas por vários núcleos, as gravuras concentram-se, maioritariamente, no troço do rio fronteiro ao concelho do Alandroal, onde se encontram os três núcleos mais representativos da arte rupestre do Guadiana, do lado português.

Também a ocupação, relativamente densa, do Bronze Final e da I Idade do Ferro se mostrou algo inesperada. O número de sítios encontrados pertencentes a este último período veio reformular, de forma decisiva, o cenário até aí conhecido. Estes sítios inserem-se numa rede de povoamento ao longo da margem direita do rio Guadiana.

Fora do contexto do Alqueva, outros trabalhos decorreram no Concelho do Alandroal, nestes vinte anos, quer no âmbito de projetos de salvamento, quer de investigação, como sejam as escavações na Anta de Santiago Maior, na Rocha da Mina e no São Miguel da Mota, ou, ainda, o trabalho de mestrado realizado acerca da necrópole da Rouca.

No que respeita aos resultados obtido durante as prospeções da Nova da Carta Arqueológica do Alandroal, dos cerca de uma centena de novos registos destaco, em primeiro lugar:

O núcleo de gravuras rupestres dos Canhões. Possivelmente relacionadas com a arte rupestre do Guadiana, apesar de diversas no tema, parecem, à partida, integrar a mesma realidade cultural e, eventualmente, cronológica.

Realço, igualmente, os quatro conjuntos de pequenos sítios de Época Romana, cerca de 40, encontrados em diversos pontos do concelho.

Arqueologia Pública

A elaboração da nova Carta Arqueológica pretendeu ser, tal como o foi a primeira, também um projecto de Arqueologia Pública. Está criada, penso, uma oportunidade de divulgação das potencialidades arqueológicas que o concelho nos oferece, tornando-se numa ferramenta de desenvolvimento local e fixação de identidades.

Ao mesmo tempo, teve a participação de vários elementos da comunidade local, os informadores e os prospectores.

Os primeiros, são, normalmente, pessoas já com alguma informação ou sensibilização para o tema. Este modo activo de participação da população na atividade arqueológica tem adeptos, sobretudo, mas não só, entre as gentes do campo, ou que dele mais usufruem. Não só sinalizam sítios arqueológicos novos como informam do seu estado de conservação, movimentação de máquinas nas proximidades ou atos de vandalismo. Foi graças a estes elementos da comunidade que registámos, por exemplo, as sepulturas da Garçoa.

Os segundos, os prospectores que participaram na nova Carta, dividiram-se entre os colegas, já experientes e excelentes colaboradores, os não arqueólogos, com vontade de descobrir sítios e paisagens, e o grupo de jovens do Alandroal.

Com estes últimos pretendeu-se realizar uma ação de Arqueologia Pública, ao mesmo tempo que se procurou testar e analisar formas de Educação Patrimonial. Através da observação dos resultados obtidos procurou-se tirar algumas conclusões quanto ao conteúdo das atividades levadas a cabo com os colaboradores, avaliar a sua eficácia e examinar formas de abordagem e linguagem utilizadas, dados que foram a base de parte da minha tese de mestrado.

As atividades desenvolvidas  com os jovens permitiram o contato com a paisagem e estimular a relação com esta; dar a conhecer o território e os principais sítios arqueológicos; sensibilizar para algumas questões específicas relacionadas com o património arqueológico do concelho e, ainda, fornecer noções básicas sobre os vários vestígios existentes, períodos cronológicos, cartografia e técnicas de prospeção.

Penso que estas são formas de aproximação dos cidadãos à Arqueologia e ao património arqueológico, e vice-versa.

Conclusão

Para concluir, uma nota pessoal: a realização desta obra foi, e é, para mim, uma marca de grande importância, tal como o sei que o é para o professor Manuel Calado, embora que, talvez, por outros motivos.

Estabelece ao mesmo tempo uma marca de continuidade e de novidade na minha carreira. Tendo participado na primeira Carta Arqueológica do Alandroal, como aluna do curso de Técnicos de Campo, em muitas ocasiões voltei a trabalhar no concelho, sobretudo no contexto dos trabalhos do Alqueva, muitas delas com o professor Manuel Calado.

A realização deste projecto deu-me oportunidade de me envolver, colaborar e sentir parte de uma comunidade, não muito diferente, mas que não era a minha, como arqueóloga e como cidadã.

Espero que todos a tomem como uma obra também vossa, que a desfrutem, utilizem e divulguem.

Conceição Roque,

6 de Julho de 2013 

3 comentários:

Anónimo disse...

PARABÉNS!

Anónimo disse...

Muito bem!
Os meus parabéns!
E como se pode adquirir um exemplar de «O Tempo dos Deuses - Nova Carta Arqueológica do Alandroal»?

Anónimo disse...

Muito bem doutora, muito bem!