quarta-feira, 7 de novembro de 2012

POEMAS DE CECÍLIA MEIRELES

Ver aqui- «POESIA BRASILEIRA», sobre vida e obra desta importante poetisa brasileira do princípio do século passado, iniciando a sua carreira literária em 1923 com o lançamento dos livros de poesia «Nunca Mais» e «Poema dos Poemas». Recordo que Cecília Meireles nasceu a 7 de Novembro de 1901, no Rio de Janeiro. «Herança», «Tu tens um Medo» e «Canção» são os poemas de sua autoria que hoje se transcrevem para o espaço «Amigos d'Arte». Viva a poesia pela mão de Cecília Meireles!
Poet'anarquista
Cecília Meireles
Poetisa Brasileira

HERANÇA

Eu vim de infinitos caminhos, 
e os meus sonhos choveram lúcido pranto 
pelo chão. 

Quando é que frutifica, nos caminhos infinitos, 
essa vida, que era tão viva, tão fecunda, 
porque vinha de um coração? 

E os que vierem depois, pelos caminhos infinitos, 
do pranto que caiu dos meus olhos passados, 
que experiência, ou consolo, ou prémio alcançarão?

Cecília Meireles


TU TENS UM MEDO

Tu tens um medo: 
Acabar. 
Não vês que acabas todo o dia. 
Que morres no amor. 
Na tristeza. 
Na dúvida. 
No desejo. 
Que te renovas todo o dia. 
No amor. 
Na tristeza. 
Na dúvida. 
No desejo. 
Que és sempre outro. 
Que és sempre o mesmo. 
Que morrerás por idades imensas. 
Até não teres medo de morrer. 

E então serás eterno.

Cecília Meireles


CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio 
e o navio em cima do mar; 
- depois, abri o mar com as mãos, 
para o meu sonho naufragar 

Minhas mãos ainda estão molhadas 
do azul das ondas entreabertas, 
e a cor que escorre de meus dedos 
colore as areias desertas. 

O vento vem vindo de longe, 
a noite se curva de frio; 
debaixo da água vai morrendo 
meu sonho, dentro de um navio... 

Chorarei quanto for preciso, 
para fazer com que o mar cresça, 
e o meu navio chegue ao fundo 
e o meu sonho desapareça. 

Depois, tudo estará perfeito; 
praia lisa, águas ordenadas, 
meus olhos secos como pedras 
e as minhas duas mãos quebradas.

Cecília Meireles

5 comentários:

Anónimo disse...

Ó, não passe sem louvor sua lembrança, prezado Poet'anarquista! De fato, Cecília é estrela maior da poesia modernista brasileira. E linda, não é? :)

Igualmente bela, sua conterrânea Amália Rodrigues eis que nos brinda com uma interpretação desse incrível poema na forma de fado!...

Tenho a gravação. Também se pode ouvi-la pelo Youtube. É um deslumbre!!!

Anónimo disse...

Como fado, Canção está com título Naufrágio, diga-se, muito bem assentado!

Anónimo disse...

Se não for exagerar em meus comentários, aí vi Naufrágio em vozes portuguesas:

Ricardo Ribeiro [inicia em 02:55]
http://youtu.be/uto84_Z34Y0

Amália Rodrigues [inicia em 01:00]
http://youtu.be/Ynbwskv9Znw

Ricardo dá uma interpretação marcante, que muito me agrada! Com nossa inesquecível Amália, optei por esta apresentação realizada em Portugal mesmo (pois há um outro vídeo de um concerto dela no Japão)

Camões disse...

Por aqui, neste espaço de liberdade, ficamos gratos e sempre mais ricos com a partilha de saberes.

Por essa razão a rubrica «MÚSICAS DO MUNDO» que se publica diariamente no Poet'anarquista, irá hoje ter dedicatória a Ŭel Roŝa.

Será assim:

E a música de hoje é...
(Escolha musical da blogosfera)

AMÁLIA RODRIGUES - «Naufrágio» - (Poema de Cecília Meireles)

Saudações

Anónimo disse...

Fico sem palavras, meu caro, pela beleza do seu gesto!

Muito obrigado, mesmo!