quinta-feira, 9 de junho de 2011

LUÍS VAZ DE CAMÕES/ 2ª PARTE

A 10 de Junho do ano de 1580 falecia Luís Vaz de Camões, grandioso poeta português, considerado uma das mais importantes figuras da língua portuguesa e um dos maiores poetas do Ocidente.

O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, 10 de Junho de 2011, celebra-se no Poet'anarquista com a publicação de poesia e biografia do maior poeta português de todos os tempos.

Três publicações a não perder nos dias 8, 9 e 10 do mês de Junho no espaço «Amigos d'Arte».
Poet'anarquista
«Camões - Poeta Laureado»
Por François Gérard
BIOGRAFIA
(2ª Parte)

Em 1567, Pêro Barreto, irmão de Francisco Barreto, para cuja investidura no governo do Estado da Índia o Poeta fizera representar o seu Auto de Filodemo, trouxe-o de Goa para Moçambique, para onde vinha como capitão. Fê-lo, a acreditar em Mariz, com falsas promessas de que em breve o desenganou. Quando Camões, na passagem da nau  pela ilha, quis embarcar nela ou tornar a Goa, o capitão reteve-o preso, até lhe pagar os 200 cruzados pelo transporte. Pode suspeitar-se que o pagamento da viagem tivesse sido satisfeito no início da viagem, e que tal dívida fosse antes contraída ao jogo durante o trajecto; o que nada tem de anómalo, pois é bem sabido que a bordo das naus da carreira da Índia se jogava desenfreadamente às cartas e aos dados, com a ruína de muitos que vinham da Índia com alguns meis financeiros ou de outros que iam para lá procurando enriquecer. 

Resgataram-no «alguns fidalgos amigos», quotizando-se entre si para saldar a dívida reclamada por Pêro Barreto, e pagando-lhe a viagem de regresso ao Reino. Segundo Mariz, esses amigos eram Heitor da Silveira (também poeta), António Cabral, Luís da Veiga, Duarte de Abreu, António Ferrão «e outros». É então que Diogo do Couto o encontra em Moçambique, «comendo de amigos, retocando as suas Lusíadas e escrevendo muito em um livro que ia fazendo, que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe furtaram. E nunca pude no Reino saber dele, por muito que inquiri. E foi furto notável».

Por esta referência de Couto se pode estabelecer o ano de 1969 como a data do regresso do Poeta a Lisboa, tendo arribado ao porto de Cascais na Primavera de 1570. Em Lisboa encontrou ele o ambiente que lhe adensaria a tristeza que trazia do Portugal ultramarino. Sob D. Sebastião, a coisa pública decorria em termos a que, logo que o poema foi publicado, se sentiu ligada a sátira que nele lhe consagra Camões, nas estrofes do canto IX, em que representa o monarca sob a figura de Actéon, emergindo de ambiente de que não poupa os aspectos condenáveis - adulação, egoísmo, injustiça, hipocrisia.

A 24 de Setembro de 1571, Camões obteve, de D. Sebastião o alvará que lhe permite imprimir Os Lusíadas por um período de dez anos. Em 1572 sai a obra, em Lisboa, em casa do impressor António Gonçalves.

«Os Lusíadas»
Canto VIII/ 33

E, em 28 de Julho do mesmo ano, D. Sebastião concede ao poeta uma tença anual de 15 mil réis, a pagamento desde 12 de Março, pelos serviços que este lhe havia prestado na Índia, e não apenas para o compensar pela publicação d'Os Lusíadas. Esta tença foi paga irregularmente, mas sempre na sua totalidade, dela beneficiando, por ordem de Filipe II de Espanha, a mãe do poeta, que lhe sobreviveu. É graças a essa documentação que sabemos que a morte de Camões ocorreu em Lisboa, a 10 de Junho de 1580.

O valor da tença era, efectivamente, inferior a muitas outras que o poder régio concedeu, em data próxima, a servidores seus como, por exemplo, João de Barros, quando deixou a feitoria da Casa da Mina. Segundo o testemunho de Diogo do Couto, seu contemporâneo e amigo, «em Portugal morreo este excellente poeta em pura pobreza» (Década VIII, liv. 1, cap. 28, Lisboa, 1673). Tudo indica que a tença era insuficiente e inadequada ao serviço que o poeta prestara à pátria, ao dar-lhe a obra que se tornaria no poema nacional.

Dada a exiguidade da tença, irregularmente paga e certissimamente mal administrada, não custa aceitar a fundamental verdade da lenda sobre o abandono e miséria em que ao Poeta decorreram os últimos anos da vida. Por isso não custa acreditar na lenda das esmolas recolhidas pelo seu criado Jau (javanês).

Da Década manuscrita da Biblioteca Municipal Portuense consta:

«Deixei-o no Reino, pobre e sem remédio e estado, que quando morreu, o enterrou a Companhia dos Cortesãos e o depositaram à porta do Mosteiro de Santana, da banda de fora, chãmente.»

Diz a tradição que Luís de Camões, já no leito de moribundo, teve notícia da catástrofe Alcácer Quibir. «Morro com a Pátria», teria exclamado.

Diogo Bernardes, quinze anos depois da morte do Poeta, em soneto publicado na edição de 1595 das Rimas deste, tinha no espírito essa tradição, conforme à sua memória de contemporâneo, quando escreveu:

«Honrou a Pátria em tudo. Inimiga sorte.
A fez com ele só ser encolhida,
Em prémio de estender dela a memória.»

Oxalá fosse verdadeira a outra referência de Diogo do Couto, no citado manuscrito, à homenagem póstuma que lhe prestou D. Gonçalo Coutinho: «Por sua fidalguia  [do Poeta] e pelo que devia à sua ciência, lhe mandou pôr uma campa sobre uma cova, com o letreiro que declarasse quem era e as obras que compôs.»

AMOR É FOGO...

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo amor?

Luís Vaz de Camões
(Continuação dia 10/ 06/ 2011)
Fonte: Instituto Camões

1 comentário:

Anónimo disse...

É sempre um enorme prazer visitar este BLOGUE!

Muito Obrigada por estas Belíssimas Postagens sobre o NOSSO GRANDE POETA CAMÕES!!!

Uma Alandroalense (L...)