quarta-feira, 8 de junho de 2011

LUÍS VAZ DE CAMÕES/ 1ª PARTE

A 10 de Junho do ano de 1580 falecia Luís Vaz de Camões, grandioso poeta português, considerado uma das mais importantes figuras da língua portuguesa e um dos maiores poetas do Ocidente.

O dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, 10 de Junho de 2011, celebra-se no Poet'anarquista com a publicação de poesia e biografia do maior poeta português de todos os tempos.

Três publicações a não perder nos dias 8, 9 e 10 do mês de Junho no espaço «Amigos d'Arte».
Poet'anarquista
«Luís Vaz de Camões»
 Poeta Português por Fernão Gomes
BIOGRAFIA
(1ª Parte)

Os seus ascendentes eram originários da Galiza. Em 1370, veio para Portugal, Vasco Pires de Camões, descendente de fidalgos galegos e partidário de D. Fernando na sua pretensão ao trono de Castela. Estabeleceu-se por cá definitivamente, provavelmente em Coimbra, pois seu filho, João Vaz de Camões e os descendentes figuram nos arquivos desta cidade.

Poeta épico e lírico, unanimente considerado o maior poeta de língua portuguesa de sempre e um dos maiores da literatura universal, a sua biografia é praticamente impossível de traçar com exactidão, pois os elementos sobre ele existentes são escassos. As lacunas existentes têm sido preenchidas por conjecturas e deduções tiradas da leitura da sua obra, critério este extremamente falível.

Luís Vaz de Camões nasceu em 1524 ou 1525, provavelmente em Lisboa (Coimbra também é geralmente apontada como o local de nascimento do Poeta), e morreu em Lisboa a 10 de Junho de 1580. O primeiro comentador de Os Lusíadas, licenciado Manuel Correia, prior da Igreja de S. Sebastião, à Mouraria, diz que «foi nascido e crescido em Lisboa», onde um documento informa morarem os pais do Poeta. O licenciado diz ter sido seu amigo e dele ter recebido a insistente solicitação para anotar-lhe a obra, e Pedro de Mariz, fala com respeito do anotador nessa edição d'Os Lusídas onde escreveu o primeiro esboço da biografia do poeta (Lisboa, Pedro Crasbeck, 1613), publicada trinta e três anos depois da sua morte. A brevidade da nota de Pedro de Mariz, mostra o pouco que por essa altura já se sabia acerca do poeta.

Os seus ascendentes eram originários da Galiza. Em 1370, veio para Portugal, Vasco Pires de Camões, descendente de fidalgos galegos e partidário de D. Fernando na sua pretensão ao trono de Castela. Estabeleceu-se por cá definitivamente, provavelmente em Coimbra, pois seu filho, João Vaz de Camões e os descendentes figuram nos arquivos desta cidade

Um tio do poeta, D. Bento de Camões, foi prior do Convento de Santa Cruz e chanceler da Universidade, e um primo, Simão Vaz, indivíduo desregrado que, no entanto, manteve as melhores relações com o príncipe D. João, pai de D. Sebastião.

Luís de Camões era filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá, segundo o confirmam os documentos oficiais. Esses documentos referem-se a sua mãe como pertencendo à família dos Macedos, de Santarém. Por isso lhe é atribuído o nome de Ana de Sá de Macedo. Estas informações arquivísticas categorizam-lhe a família em alto plano hierárquico e indicam-no a ele como cavaleiro fidalgo da Casa Real, o que, não lhe dando garantia contra a pobreza, abria-lhe as portas dos Paços Reais, onde irá brilhar.

A sua formação cultural, essa decorreu provavelmente em Coimbra. A situação que na Universidade ocupava o tio D. Bento torna admissível ter sido ele a dirigir-lhe a educação, embora não haja registo comprovativo de que tenha frequentado a Universidade. É difícil explicar a vastíssima e profunda cultura do poeta sem partir do princípio de que frequentou estudos de nível superior. O poeta refere-se a esse tio na canção «Vão as serenas águas...»

De volta a Lisboa, participou com diversas poesias nos divertimentos poéticos a que se entregavam os cortesãos; relacionou-se através desta actividade literária com damas de elevada situação social, e com fidalgos de alta nobreza, com alguns dos quais manteve relações de amizade.

Estes contactos palacianos não devem contudo representar mais do que aspectos episódicos da sua vida, pois a faceta principal desta época parece ser aquela de que dão testemunho as cartas (escritas de Lisboa e da Índia).

Entre 1547 e 1549 esteve em Ceuta como soldado, segundo Severim de Faria (Discursos Vários Políticos, Évora, 1624). Teria sido em África que um pelouro lhe vazou um dos olhos em algum recontro com os Mouros. De certeza sabe-se que a deformidade ocorreu antes da sua partida para a Índia, pois a ela se refere numa carta que de lá escreveu como sendo facto conhecido.

Sobre a sua estada em Ceuta, o seu primeiro biógrafo, Pedro de Mariz, alude ao boato de que foi castigo por uns amores que, segundo dizem, tomou no Paço e depois Diogo de Paiva de Andrade, em suas Lembranças, e o prior da Sé de Évora, Manuel Severim de Faria, cultor de história biográfica e genealogias. Todos, porém, sobre o mesmo segundo dizem.
«Soneto»
Luís Vaz de Camões

Essa dama tem sido identificada como uma das três Catarinas de Ataíde que existiram no século (Faria e Sousa) e já no nosso tempo com a Infanta D. Maria (Prof. José Maria Rodrigues). Nunca se saberá. 

A sua estada em Ceuta documenta-se com a elegia «Aquela que de amor descomedido», e à perda de um dos olhos em combate se refere a canção «Vinde cá, meu tão certo secretário». Note-se que, nestes como noutros poemas, é nulo o seu entusiasmo bélico, apenas sensível a depressão do desterro, a solidão.

É quando volta de Ceuta que ele desvaira na boémia. Não parece ter modo de vida; e esta leviandade a descambar para a dissolução está de acordo com os documentos através dos quais podemos reconstruir as circunstâncias da sua partida para a Índia. Em dia de procissão do Corpo de Deus, no Rossio, com mais dois amigos, envolve-se em desordem com um tal Gonçalo Borges, criado do Paço, ao qual fere com um golpe de espada no pescoço, tendo ficado preso na cadeia do Tronco.

O ofendido, «que ficou sem aleijão nem deformidade», ao fim de algum tempo perdoa ao agressor «toda justiça, dano, corregimento» e assim o faz também D. João III, na Carta de Perdão, que é dos mais directos e informativos documentos sobre Camões: consta dele o nome do pai -Simão Vaz de Camões - e a qualidade de fidalgo da Casa Real. Diz que «o suplicante é um mancebo e pobre e me vai este ano (1553) servir à Índia...».

Por tudo, o rei lhe perdoa, apenas devendo pagar 4000 réis para piedade. O ir servir o Rei à Índia talvez não fosse condição imposta, até porque o agredido lhe perdoava, mas resolução espontânea do poeta, e isso talvez lhe tenha propiciado mais facilmente o perdão, mas sobretudo porque essa partida seria uma maneira de se libertar da vida sem horizontes que levava e o não satisfazia, como se deprende de carta enviada da Índia:

«Enfim, Senhor, não sei com que me pague saber tão bem fugir a quantos laços me armavam os acontecimentos, como com me vir para esta» (terra), declaração que põe bem evidência a voluntariedade da largada. Também é possível que Camões tenha visto nesta aventura - a mais comum entre os portugueses de então - uma forma de ganhar a vida ou mesmo de enriquecer. Aliás, uma das poucas compatíveis com a sua condição social de fidalgo, a quem os preconceitos vedavam o exercício de outras profissões.

Embarcou a 24 de Março na «Armada de 1553» comandada por Fernão de Álvares Cabral da Cunha. Na viagem sofreu uma grande tempestade no Cabo da Boa Esperança e disso nos dá conta na elegia O Poeta Simónides.

A vida de Camões no Oriente esteve longe de decorrer com calma e prosperidade propícias. Goa decepcionou-o, «A terra é mãe de vilões e madrasta de homens honrados...». Não foi feliz. Queixa-se de saudades no Cabo Guardafu (Canção Junto de um seco, duro, estéril monte ..., uma das suas mais belas Canções); de saudades se lamenta na ilha de Ternate...

São ainda as suas composições que nos informam dos momentos de grato convívio, como aquele em que, tendo oferecido uma ceia a fidalgos seus amigos - João Lopes Leitão, Vasco de Ataíde, D. Francisco de Almeida e Heitor da Silveira - encontraram estes nos pratos graciosos versos por iguarias. Envolve-o simpatia e prestígio que o habilitam a pedir ao Vice-Rei, Conde de Redondo, a quem glosa versos que ele lhe manda, protecção para Heitor da Silveira e para o livro Colóquios dos Simples e Drogas, do Dr. Garcia de Orta, que publica a ode a isso destinada em sua primeira edição, e a solicitar do herói de Malaca, D. Leonis Pereira, benevolência igual para a obra Pêro de Magalhães de Gândavo História de Santa Cruz

Colabora nas festas de investidura de Francisco Barreto no cargo de governador da Índia (1555) com o Auto de Filodemo. Em alvará de 1585, confere Filipe I à mãe do Poeta - Ana de Sá - a tença do filho, falecido, atendendo aos serviços de "Simão Vaz de Camões e aos de Luís de Camões, seu filho, cavaleiro da minha casa, e a não entrar na feitoria de Chaul, de que era provido...". A nomeação do Poeta implica certo reconhecimento dos seus méritos, e o não provimento no cargo converge no mesmo significado com quanto nos fala nos seus infortúnios, por exemplo, as trovas ao Vice-Rei Conde de Redondo, para que o livre do embargo por dívida a um seu credor de apelido Rodrigues, citando-o pela alcunha de Fios-Secos , pela qual era geralmente conhecido na Índia; as Oitavas ao Vice-Rei D. Constantino de Bragança, em que alude à "pobreza avorrecida,/ por hospícios alheios degradado"; e a do Canto X dos Lusíadas, alusiva ao injusto mando de que foi vítima e ao naufrágio na foz do rio Mecon. Fundindo suas mágoas pessoais com o mal-estar geral, o Poeta chora a incompreensão da Pátria, que o não ouve, porque "está metida / no gosto da cobiça e na rudeza/ duma austera, apagada e vil tristeza".

Como soldado parece que participou (Novembro de 1553) numa expedição à costa do Malabar e esteve, por algum tempo, no cabo Guardafui, incorporado, ao que se crê, no cruzeiro ao estreito de Meca, entre Fevereiro e Outubro de 1555, feito pela armada de Manuel de Vasconcelos. É depois destas duas expedições que se situa o seu período em Macau. 

Em data que é impossível precisar, Camões naufragou na foz do rio Mekong (actual Vietname), salvando das águas o manuscrito d'Os Lusíadas, como ele próprio declara ( X, 128). É nesse naufrágio, diz a Década manuscrita da Biblioteca Portuense que lhe morreu uma moça china mui formosa, com que vinha embarcado e muito obrigado, e em terra fez sonetos à sua morte, em que entrou aquele que diz «Alma minha gentil que te partiste ...». Nenhum da Lírica do Poeta é tão conhecido:

ALMA MINHA GENTIL...

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na Terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Luís Vaz de Camões
(Continuação dia 9/ 06/ 2011) 
Fonte: Instituto Camões


1 comentário:

Anónimo disse...

Muito Obrigada por nos ter proporcionado tão BOA LEITURA!!!

Uma Alandroalense (L...)